São Paulo. Enquanto 340 expositores chineses fabricantes de roupas e tecidos terminavam de montar seus estandes no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo, ontem, cerca de 500 manifestantes, representantes da indústria brasileira de confecção, protestavam na porta do local contra a realização do evento. Embora não tenha havido violência, o episódio é emblemático da guerra travada entre o setor varejista e a indústria têxtil brasileira.
Enquanto as lojas ganham com a enorme variedade e baixo preço das peças produzidas na China, os fabricantes nacionais reclamam de uma concorrência desleal com os asiáticos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), até o dia 18 de outubro o setor têxtil do país já havia importado US$ 6,6 bilhões, o que, de acordo com a instituição, implicou em 668 mil empregos que deixaram de ser gerados no setor.
Segundo dados do IBGE, apenas de janeiro a agosto de 2013 houve diminuição de 1,46% na produção de vestuário, e de 3,9% na de têxteis. Na outra ponta, nos nove primeiros meses do ano, as importações de vestuário tiveram aumento de 8,2% no valor, comparados ao mesmo período de 2012.
“A cada minuto, 1,6 emprego é perdido ou deixa de ser gerado por conta das importações. Esse evento é emblemático desse modelo de importação desenfreada”, disse o presidente do Sindicato da Indústria de Especialidades Têxteis do Estado de São Paulo (Sietex-SP), Paulo Henrique Shoueri.
O evento a que o dirigente sindical se refere é a primeira edição da GoTex Brasil, uma feira de negócios promovida pelo Grupo China Trade Center, criado em 2002, em São Paulo, com atuação no setor de comércio exterior, auxiliando empresas em feiras de negócios internacionais, sobretudo na Ásia. A mostra teve o apoio da Câmara de Comércio da China para Importação e Exportação de Têxteis e Vestuário (CCCT) e do Conselho da China para a Promoção do Comércio Internacional (CCPIT).
Em rápida entrevista, o diretor do Grupo China Trade Center, Pan Faming, disse que o objetivo do evento é nada mais que fortalecer as relações entre Brasil e China. “Os expositores são fornecedores que vieram também para conhecer o mercado. Existem grandes marcas que podem se internacionalizar e que precisam conhecer melhor o mercado brasileiro”, disse.
Sobre a acusação de que os chineses estariam competindo deslealmente com a indústria brasileira, Pan Faming se limitou a dizer que cada país tem sua política industrial e que as empresas têm a intenção de aprender sobre a realidade do Brasil. Ele disse também que, além de produtos acabados, os expositores também trouxeram fios e tecidos, que podem servir de matéria prima para fabricantes nacionais.
Viajou a convite da GoTex Brasil