O escritor freelancer britânico, nascido na ilha de Jersey e formado em biologia da floresta tropical Mike Shanahan, 42, sustenta que as figueiras, apesar de pouco conhecidas, são árvores de vida e de conhecimento e afetaram a humanidade de forma profunda, moldando o mundo.
Elas influenciaram culturas diversas e podem ajudar a restaurar a vida em florestas degradadas. O resultado de suas pesquisas está no livro “Gods, Wasps and Stranglers: The Secret History and Redemptive Future of Fig Trees”, (“Deuses, Vespas e Entranguladores: A História Secreta e o Futuro Redentor das Figueiras”), lançado nos Estados Unidos, e que no Reino Unido ganhou o título de “Ladders to Heaven”, (“Escadas para o Céu”).
“Tudo começou quando estudei, para meu PhD, o gênero Ficus em uma floresta tropical em Bornéu, ilha localizada na Ásia. O parque nacional onde eu trabalhei abrigava quase 80 espécies diferentes, desde pequenas a gigantes e estranguladoras. Cada espécie de fícus é polinizada por apenas um ou dois tipos específicos de vespas minúsculas que só podem se reproduzir dentro dos figos de espécies parceiras. Graças a essa relação, os figos estão disponíveis durante todo o ano e, no mundo inteiro, alimentando mais vida selvagem do que qualquer outra fruta”, comenta Shanahan.
E tem mais, diz ele. “Há 80 milhões de anos essas árvores vêm estabelecendo um negócio curioso com algumas vespas minúsculas. Graças a esse acordo, os figos sustentam mais de 1.200 espécies de aves e mamíferos, muito mais do que quaisquer outras árvores, tornando-os vitais para as florestas tropicais. Em um momento de desmatamento em todo o mundo e aumento da temperatura global, sua história oferece esperança”, diz o escritor.
Segundo ele, as figueiras não só testemunharam a história, mas também a moldaram, e podem enriquecer nosso futuro. “As figueiras se apresentam em todas as principais religiões e culturas em todo o mundo. Elas desempenharam papéis importantes na evolução humana, alimentando nossos antepassados pré-humanos, bem como algumas das primeiras civilizações. Elas também são extremamente importantes para a ecologia de florestas tropicais e de outros ecossistemas e podem nos ajudar a enfrentar a mudança climática e o declínio global da biodiversidade”.
A importância dessa espécie remonta aos primórdios da humanidade. “As figueiras alimentaram nossos ancestrais, influenciaram culturas diversas e desempenharam papéis fundamentais na aurora da civilização. Estão presentes nas principais religiões e figuraram ao lado de Adão e Eva, Krishna, Buda, Jesus e Maomé. Isso não é coincidência, elas são especiais, pois evoluíram quando dinossauros gigantes ainda vagavam e têm moldado nosso mundo desde então”, comenta o estudioso.
Em suas pesquisas, Shanahan descobriu que as figueiras intrigaram Aristóteles e surpreenderam Alexandre, o Grande. Elas foram fundamentais na luta do Quênia pela independência e ajudaram a restaurar a vida após a catastrófica erupção do vulcão Krakatoa. Os faraós do Egito esperavam encontrar árvores de figueira no além, e a rainha Elizabeth II estava dormindo em uma figueira quando subiu ao trono.
Aplicabilidade da espécie
Potencial curativo e ecológico
As figueiras são realmente poderosas, surpreendentes e mágicas. “O rei Ezequias de Judá foi curado de uma doença fatal depois que o profeta Isaías sugeriu a aplicação de uma pasta feita de figos em sua pele. Esses frutos são altamente nutritivos e ricos em minerais, fibras e antioxidantes. O profeta Maomé disse a seus seguidores que comessem figos enquanto curavam várias doenças”, comenta Mike Shanahan.
Em todo o mundo as pessoas usam a casca, as raízes e o látex de diferentes espécies de fícus em remédios tradicionais para tratar lesões e dezenas de doenças. Muitos desses remédios ainda estão em uso entre comunidades que vivem em florestas na Amazônia, na África e na Ásia, por exemplo. Há até alguma evidência de que os chimpanzés usam casca de figo e saem para se automedicar contra infecções parasitárias”, ensina o escritor.
Pergunto a Mike se ele acredita que as figueiras podem fornecer esperança para o futuro da humanidade. “Ao plantar figueiras silvestres podemos proteger a vida selvagem e incentivar as florestas tropicais a se regenerarem, o que ajudará a limitar as mudanças climáticas. Elas podem crescer até mesmo nas rochas e produzem rapidamente os figos, que atraem muitos pássaros e outros mamíferos. Elas também podem ajudar as pessoas a se adaptarem a condições climáticas extremas, como a seca ou as chuvas intensas. Na Etiópia, os agricultores que cultivam figueiras podem resistir à seca. Na Índia as pessoas aprenderam a fazer pontes vivas com esta espécie que pode sobreviver por centenas de anos, salvando vidas em áreas de alta pluviosidade”, finaliza.