Nem velhas, nem feias e muito menos com verruga no nariz. “As bruxas nunca foram feias e representantes do mal, mas sim, grandes mulheres na sociedade que ameaçavam os homens necessitados de poder. Foi a mentalidade machista que reprimiu e distorceu a imagem delas, assim como, até hoje, são rotuladas as mulheres batalhadoras como feministas feias e mal-amadas”, comenta Isabel Vasconcellos, 62, escritora com mais de 11 obras publicadas, entre elas, o livro “Todas as Mulheres são Bruxas”, em sua segunda edição, pela Editora Barany.
No livro, a autora explica que a figura milenar está por todas as partes, e, ao contrário do que se pensa, elas são belas, atraentes e bem-sucedidas.
“Sempre fui feminista e então estudei a história das mulheres. O fato de elas terem sido queimadas pela Inquisição, sempre me incomodou muito. Fui, então, entender quem eram elas e percebi, pelos relatos da tradição e da história, que tudo que elas tinham nós também temos: a intuição, a sensibilidade”, diz Isabel, que durante 30 anos esteve à frente de programas voltados para a mulher nas TV’s Gazeta, de São Paulo, Record, Rede Mulher de Televisão e, por último, um programa sobre sexo, na TV Bandeirantes.
As bruxas retomam no imaginário popular com a proximidade do Hallowenn, festa pagã, comemorada no próximo dia 31.
“O que hoje é conhecido por Halloween, há muitos séculos, era uma festa religiosa comemorada sempre no último dia do verão, mais ou menos em 31 de outubro. Nesse dia, acreditava-se que uma porta entre o mundo espiritual e o material abria-se para saudar e guiar os espíritos dos mortos. Para que não ficassem presos e sem rumo no mundo dos vivos, geralmente eles eram orientados por abóboras iluminadas e outros objetos até hoje existentes nas festas em celebração à data”, comenta Isabel.
Origem. A autora passeou pela história e concluiu que “as únicas mulheres que viveram em igualdade de direitos com os homens foram as da sociedade celta. A civilização celta, um dos povos classificados como bárbaros pelo Império Romano, floresceu por muitos séculos, desde cerca de 400 a.C. até a Baixa Idade Média. No mundo dos celtas não havia diferença entre os sexos. Tanto mulheres quanto homens exerciam as diversas funções sociais, da política à religião. O sexo não era um tabu, era livre e fazia parte, inclusive, das festividades promovidas em prol da fertilidade da terra”.
Sendo assim, “essas mulheres sexualmente tão livres quanto os homens, que tinham poder político e sacerdotal e sabiam manipular ervas e criar medicamentos, não combinavam com a visão que os romanos cristãos tinham da mulher. O cristianismo (não como filosofia de vida, mas enquanto instituição) via e vê a mulher como a detentora do pecado, a que precisa ser domada na sua excessiva sensibilidade pela racionalidade do homem, seu amo e senhor. Enquanto a sociedade romana predominou sobre a celta, as mulheres livres foram sendo sistematicamente perseguidas amaldiçoadas e queimadas nas fogueiras da Inquisição. Os católicos passaram seis séculos queimando mulheres”, observa a autora.
Com o tempo, a sabedoria das mulheres celtas foi sendo eliminada e esquecida. “Mulheres sábias, em nome da repressão dos antigos católicos, foram rotuladas como bruxas, feiticeiras, demoníacas. Muito da tradição, da sabedoria, do domínio da intuição, se perdeu, espalhou-se nas cinzas das fogueiras da matança. Hoje, as mulheres precisam resgatar a bruxa dentro delas. É preciso lembrar que podemos ter os mesmos direitos que os homens na sociedade, mas que somos diferentes deles”, propõe Isabel.