Dilema

Chegada do filho pode fazer da vida sexual um drama

Sete em cada dez homens sentem falta de sexo após o nascimento do bebê, enquanto exatamente sete em cada dez mulheres relatam redução do desejo nessa fase da vida, segundo pesquisa


Publicado em 09 de outubro de 2016 | 03:00
 
 
 
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Das práticas cotidianas ao comportamento, a chegada de um filho tem o poder de impactar completamente a vida dos pais. Depois de nove meses de espera, a chegada de um bebê não apenas reduz as horas de sono ou a quantidade de bagagem na hora de sair de casa. O fim da gestação pode comprometer, também, a vida sexual do casal.

Uma pesquisa realizada recentemente pelo projeto Mães Que Só Pensam Naquilo mostrou que sete em cada dez homens sentem falta da vida sexual antes da chegada do filho. Em contrapartida, sete em cada dez mulheres revelaram que perderam o desejo de fazer sexo após a gestação. Isso está ligado a fatores tanto biológicos quanto sociais, afirmam especialistas.

De acordo com o coordenador de medicina sexual do Hospital Mater Dei, Gerson Lopes, a gestação traz diversas mudanças hormonais para a mãe. Para o pai, as mudanças são essencialmente comportamentais. “Assim que a mãe começa a amamentar, há o crescimento da taxa de prolactina (hormônio responsável pela produção do leite materno). Quanto maior esse hormônio, menor a libido. Ele também traz consequências físicas, como o ressecamento da vagina. Mas isso não é determinante. As questões sociais também devem ser consideradas”, diz.

Em contrapartida, nos homens, as taxas hormonais não mudam significadamente ao longo da vida, o que explica o desejo sexual praticamente constante, independentemente da gestação da mulher e do nascimento do filho. “Entretanto, há homens que veem as mudanças que ocorrem no corpo da mulher como algo negativo. Outras vezes, eles podem se sentir ‘trocados’ pelo bebê. Mas isso não é saudável”, defende o psicólogo Rodrigo Torres.

Autoestima. Além das mudanças hormonais, há o ganho de peso, o surgimento de estrias e das olheiras devido às noites maldormidas. E essas alterações na aparência podem diminuir a autoestima feminina, prejudicando diretamente a vida sexual.

Vencer essa questão da imagem foi importante para que a designer de interiores Lorena Clementoni, 23, e seu marido, Estevão Fernandes, 25, superassem os problemas sexuais na relação. “No início era supercomplicado, até pelas questões da cicatrização após o parto. Depois disso, tive problemas com a minha autoestima, por causa do ganho de peso. Engravidei muito nova e não sabia lidar com isso. Até o terceiro mês, o sexo foi bastante complicado”, conta.

A designer conta que, quando soube da gravidez, aos 18 anos, ainda não era casada, e se juntar permanentemente ao pai do filho não estava em seus planos. Essa situação também contribuiu para que outros fatores psicológicos interferissem no sexo.

“De certa forma, eu fui meio que obrigada a casar, e a minha vida mudou bastante. Quando meu filho nasceu, achava que a minha vida sexual nunca mais iria voltar ao normal. Mas, aos poucos, fui me adaptando às mudanças, e hoje, cinco anos depois, sou satisfeita e feliz”, comemora.

 

Análise

Saída para o problema está nas mãos deles

Embora 70% das mulheres tenham afirmado que perderam a libido após a gestação, apenas 61,5% dos homens entrevistados pelos pesquisadores disseram saber dessa diminuição do desejo de sexo por parte das companheiras. Isso está relacionado à falta de diálogo entre o casal, fator que também impacta a vida sexual após o nascimento do filho.

Esse é o caso da empresária Kênia Campos, 26. Mãe de primeira viagem, ela conta que, embora a vida sexual não tenha voltado completamente ao normal, o marido não tem conhecimento de seus problemas em relação ao sexo. “Acredito que a falta de prazer é algo que faz parte do processo. É uma transição. Como ele ainda não reclamou, não vejo por que abrir o jogo. Com o tempo sei que vai melhorar”, explica a mãe do pequeno Kael, de 9 meses. A empresária diz acreditar que o medo de sentir dor e a preocupação com a criança foram os principais motivos que alteraram a vida sexual dela e de seu marido, Peterson Camilo, 35. “Tinha muito medo de doer. Mas com o tempo isso foi deixando de ser um problema. Não tive dor, mas a preocupação com a criança está sempre ali”, confessa.

Casos como o de Kênia são bastante comuns, segundo o psicólogo Rodrigo Torres. Segundo ele, a mulher tende a se voltar completamente à vida familiar e aos cuidados com o filho. A chave para que isso não impacte consideravelmente a vida sexual está no comportamento do homem. “O marido deve, primeiramente, ser compreensivo e entender que aquilo é uma fase. Ele também deve participar ao máximo da vida da mulher, da maternidade”, alerta Torres. (MA)

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