O ambiente está repleto de pessoas, que chegam e saem, a todo momento. Conversam, riem, divertem-se, aos pares ou em grupos maiores. Em contraste, e dividindo o mesmo cenário, há alguém solitário. Ele não necessariamente está esperando alguém, nem mesmo carece de companhia. Poderia muito bem estar acompanhado, no bar, como todas as outras pessoas. Mas, ao contrário, prefere estar ali sozinho. É uma opção.
Essa cena é cada vez mais comum, mas ainda assim, a todo tempo, uma pessoa desiste de um compromisso exatamente por falta de companhia. Foi para descobrir porque somos tão relutantes em nos divertir por conta própria e como esse tipo de comportamento nos leva a ter menos prazer no fim das contas que a professora de marketing da Robert H. Smith School of Business, Rebecca Ratner, passou 5 anos pesquisando o comportamento dos americanos. E o que ela diz sobre isso? "As pessoas provavelmente estariam mais felizes saindo e fazendo alguma coisa".
Rebecca publicou recentemente um artigo sobre a diminuição da participação dos americanos em atividades em grupo. A pesquisa descreve o quanto as pessoas subestimam, por exemplo, ir ao teatro, museu, comer em um restaurante ou mesmo ir a um show sozinhas. Ainda de acordo com a professora, esse quadro tem mudado e tende a se inverter, uma vez que os jovens estão se casando mais tarde e, assim, encontram mais tempo livre em suas rotinas.
No teste, que orientou a pesquisa, foram feitas cinco experiências. Em quatro delas, os pesquisadores entrevistaram pessoas a respeito de atividades sociais e questionaram se preferiam participar delas sozinhas ou com outras pessoas. Na quinta experiência, a partir das preferências traçadas, eles avaliaram que, ao fazer um programa que elas achavam que não aproveitariam sozinhas, elas se divertiram tanto quanto estivessem acompanhadas.
"Quando você compara, a experiência é bastante similar, com ou sem companhia. Visitando uma galeria ou indo ao cinema, você provavelmente terá uma diferença muito pequena no nível de prazer", diz a pesquisadora.
Segundo Ratner, a razão pela qual as pessoas relutam em saírem sozinhas é a preocupação com o que o outro vai pensar. "Acabamos ficando em casa em vez de sairmos para programas interessantes com medo das pessoas pensarem que somos fracassados"
Para ela, isso resulta em uma grande renúncia, à viver algo divertido. É preciso quebrar esse estigma para que isso se torne cada vez mais comum e natural, defende a especialista.
O gerente de operações do ramo alimentício, o belo-horizontino Victor Mucci, de 21 anos, não se prende a companhias para fazer aquilo que gosta e que sabe que lhe dará prazer. "Nem sempre as pessoas estão dispostas a acompanhar o que geralmente gosto de fazer. Os meus gostos não são iguais ao de todos. Então, vou em lugares sozinho como show, cinema e, até mesmo, viajo desacompanhado. Isso tudo com a pretensão de me satisfazer. Gosto de viver experiências novas", conta Mucci.
Fazer uma atividade sozinho pode potencializá-la, uma vez que fica mais fácil manter o foco. Para o professor de francês, o catarinense de Joinville Glauber Rezende, de 24 anos, isso é exatamente o que busca quando está sozinho. Ele gosta da solidão para analisar um filme ou ver cada detalhe de uma exposição. "Não gosto, por exemplo, quando a pessoa fica me pressionando para ir embora logo do museu quando eu estou lá curtindo o meu momento, aquela simbiose toda entre eu e a obra", confessa.
Mesa para um
Quando se fala em fazer uma refeição sozinho, sempre associa-se que ou a pessoa está com pressa, sem tempo para se alimentar direito, ou, então, está em um quarto de hotel, e faz o pedido, por falta de outra opção. No entanto, a prática de se comer sozinho, sentando em um restaurante, com direito a vivenciar o momento de prazer, tem sido encarada cada vez mais como algo natural.
Nos Estados Unidos, Canadá e Europa, onde há uma parcela grande de pessoas que moram sozinhas, restaurantes estão se adaptando para criar um serviço voltado para este público, com o objetivo de acabar com o estigma que sofrem aqueles que fazem programas sozinhos. A tática dos estabelecimentos é ter em seu espaço largos balcões e mesas individuais, além de um menu de degustação, com a finalidade de entreter o cliente.
Em Amsterdã, na Holanda, o restaurante Eenmaal, que pretende abrir filiais em Londres, Berlim e Nova York, tem um ambiente todo adaptado para receber pessoas para se sentarem sozinhas à mesa. É o primeiro no mundo com esse tipo de proposta - mesa para um. O projeto foi criado pela holandesa Marina van Goor, depois que ela percebeu a falta de lugares públicos para se estar sozinho. A partir daí, pensou em um lugar que fosse atraente e em algo que deixasse as pessoas desconectadas. E comida, bem como o hábito de comer sozinho, para a holandesa, é uma forma de se desligar da própria cultura.
Mineiro de Itaúna, o jornalista Mateus Meireles, de 25 anos, não vê problema em estar sozinho. Apesar de gostar bastante de sair acompanhando, em ambientes e momentos que o diálogo são importantes, ele realiza várias atividades sozinho. Uma deles é comer. "Eu almoço todos os dias sozinho e gosto disso porque é como se tirasse um tempo para mim", comenta.
CRÉDITO: Flávio de Castro |
Apesar de gostar de companhia, Mateus realiza várias atividades sozinho |
Almejar um tempo só seu, como sugere Meireles, é fazer algo da maneira e quando bem quer. É uma experiência diferente daquela em companhia de outras pessoas. "Acho que o legal de se fazer coisas sozinho é ter a oportunidade de se conhecer, o que ajuda a lidar com o outro no coletivo. Ficar o tempo todo sozinho pode ser cansativo, ficar acompanhado também. É preciso saber dosar", acrescenta.
A Analista de Planejamento paulistana Caroline Maciel, de 31 anos, também tem o almoço como uma refeição importante. É a hora do dia que ela privilegia a calma. "Para mim, almoçar sozinha é um momento de descompressão, gosto de ficar em silêncio e observar as pessoas, o lugar e o sabor da comida, além de pensar sobre nada", revela. Ela também costuma frequentar Pubs sozinha, quando quer vivenciar esse tipo de experiência.
Na estrada, e só
Escolher um destino, botar a mochila nas costas e partir é uma decisão que traz certo frio na barriga. E aqui eu abro um parêntese para falar da minha experiência. Fiz, certa vez, uma viagem sozinho. Decidi tudo muito rápido. Parti para um lugar que ainda não conhecia, mas que tinha muita vontade de visitar, a cidade de Paraty, na região sul do estado do Rio de Janeiro. A caminho, durante a viagem, pensei e repensei. Até então, na minha cabeça, eu estava cometendo uma loucura em menor grau.
O resultado foi incrível. Nunca conheci tantas pessoas, de diferentes lugares e visão de vida. Quando se viaja acompanhado, você fica limitado àquela pessoa ou grupo. As interações com a gente do lugar ou outros turistas é mais rara quando se tem companhia. Além do mais, a interação que você passa a ter com aquelas novas pessoas que conhece nesse tipo de viagem é diferente da que teria com um amigo ou alguém da família, pois não te faz lembrar de assuntos da sua rotina. Então, você continua distante do seu cotidiano, trabalho, casa, enfim, da sua vida. Outro ponto positivo a se destacar é o fato de poder escolher os programas e roteiros turísticos sem a intervenção de uma companhia.
Vivência parecida experimentou Mateus Meireles. Ele conta que gosta de viajar sozinho. "Acho interessante ter a experiência de conhecer o local e passar por uns apertos. Você acaba ficando mais esperto e tem outra visão do local. Fiz isso quando fui para o Marrocos. Comprei a passagem e não avisei para ninguém. Tive que me virar para lidar com a língua e cultura, mas foi uma experiência única", lembra.
CRÉDITO: Reprodução Instagram |
O bom de viajar sozinha é que você conhece pessoas diferentes, diz Caroline |
Já Caroline Maciel, prefere fazer viagens acompanhada, mas ressalta que a oportunidade de ser fazer coisas só é algo enriquecedor para a vida. Para ela, vale o lema "antes só do que mal acompanhado". "O bom de viajar sozinha é que você conhece pessoas diferentes e, assim, tem novas companhias", observa. Ela também costuma ir ao cinema e teatro desacompanhada. "Esses momentos são de meditação. Acabo fazendo associações e, em geral, resolvo problemas e tenho insights", conclui.