Todo ano o músico e historiador Guto Borges marca presença em pelo menos dez blocos carnavalescos da capital. Isso sem contar toda a logística da pré-folia com a qual ele se envolve – seja como participante ativo na organização de alguns dos blocos ou como membro integrante da bateria. Toda a preparação e o envolvimento com o Carnaval de BH ainda conta com um serviço extra: a maratona de montar diferentes fantasias, uma para cada dia da folia de Momo.
Às vésperas dos dias de Carnaval, um dos quartos do seu apartamento no bairro Santo Antônio, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, se transforma em uma espécie de barracão carnavalesco. As alegorias geralmente saem de um baú antigo em que ele acumulou uma série de trajes com o passar dos anos. “Eu vou guardando um monte de coisas nele e, quando o Carnaval se aproxima, separo o que eu posso usar, emprestar ou trocar com alguém. Fantasiar é um ofício da criatividade, é como você vai querer se expressar”, acredita.
Ousadia
Assim como Guto, outros foliões se preparam para fazer bonito nas ruas da cidade com fantasias e adereços. Geralmente, eles encontram no armário uma fonte da criatividade para bolar o próprio figurino – opção econômica em tempos de crise.
“Carnaval é o momento de criatividade, de explorar o lado ousado. Tudo pode. Vale muita roupa, pouca roupa... Tudo o que durante o ano você pensou se poderia usar, nesse momento você pode usar com certeza”, acredita a stylist Ana Luiza Ballesteros.
É por isso que O TEMPO convocou um time de foliões de carteirinha, uma turma que sabe o que é produção para o Carnaval. Inclusive, alguns deles guardaram segredo sobre o look que iriam usar minutos antes dos cliques desta edição. Afinal, não vale entregar a fantasia antes que o bloco passe, não é? Confira a seguir inspirações dos prendados na categoria “figurino” para fazer bonito na rua.
Do fundo do baú
Um dos maiores maratonistas de blocos do Carnaval de rua de BH, Guto Borges recorreu mais uma vez ao baú repleto de referências e as mesclou com outros adereços. O resultado foi este: tudo junto e misturado. Reaproveitar, para ele, é o caminho certo do folião. “Eu sempre improviso a minha fantasia. Reaproveito todas a peças que não uso mais e que ficam guardadas dentro de um baú. Também mesclo com outras, encontradas em brechós. Existe um papel importante na fantasia, que é o de se mostrar. É a forma mais sincera de se colocar no Carnaval; o momento que todo mundo se mostra e se veste do jeito que quiser”, acredita.
Trá-trá-trá
FOTO: LINCON ZARBIETTI |
Inspirada na canção “Metralhadora”, da banda Vingadora, apontada como o grande hit do Carnaval de 2016, a stylist e carnavalesca de carteirinha Ana Luiza Ballesteros construiu sua fantasia e buscou apoio da maquiadora Renata Vilela. “É uma música que ninguém consegue mais tirar da cabeça”, brinca. Para ela, o segredo para criar a fantasia é olhar para o guarda-roupa de outra forma e descolar as peças – para que, assim, o investimento seja só na purpurina. Do tipo: vestido que virou saia. “Combinei uma t-shirt longa branca com uma bem brilhante e bordada, da Arte Sacra. Depois arrematei, mesclando com uma camiseta de estampa de exército amarrada na cintura pra ficar bem feminina. Prezo também sempre pelo conforto. Na rua, você vai andar muito, então use sempre tênis, todos os dias. Eles garantem conforto para aproveitar a folia e não deixam os pés expostos”, acredita.
Vamos a la playa?
FOTO: Flávio Charchar/divulgação |
Protagonizando o Bloco da Calixto pelo terceiro ano consecutivo, Aline Calixto sempre se envolve na produção de suas fantasias a cada Carnaval. O processo funciona da seguinte forma: a cantora pensa no tema e nos croquis, desenvolve os figurinos juntamente com o stylist Rodrigo Cezário e passa para sua mãe costurar. Neste ano, seguindo a temática de seu bloco que sairia no sábado (6), ela investiu no conceito navy na tentativa de trazer o clima praiano para BH. Nada mais convidativo do que usar roupa de banho. “Para aguentar cantar e dançar em cima do trio, tem que levar em conta a durabilidade da fantasia. Não uso nada muito pesado, para não atrapalhar. Nos pés, prefiro salto anabela, que é mais confortável”, revela a sambista.
Para ler a sua sorte
FOTO: PEDRO GONTIJO |
A jornalista Natália Miranda já está com as suas cinco fantasias prontas, para desfilar nos blocos da cidade. A escolhida para mostrar aqui foi uma cigana com a qual irá curtir o Bloco do Queixinho, que sai neste domingo (7), feita com peças do seu acervo pessoal – a saia, por exemplo, foi presente que a mãe trouxe de uma viagem à Turquia, combinada com roupas perdidas no armário e acessórios novos garimpados pelos bazares carnavalescos, como o bodychain da Faia Chapelaria Couture e os brincos da Mary Design. “Acho legal misturar a fantasia, porque não dá pra comprar tudo em todos os anos. Faço também o intercâmbio delas. Esta de cigana, provavelmente, vai servir em alguma amiga minha no ano que vem”, aposta.
Lambe-lambe
FOTO: Uarlen Valerio |
É entre os guardados do maleiro da casa de seus pais que o compositor e cantor Dudu Nicácio encontra as inspirações para montar a fantasia a cada ano. “Eu sempre busco alguma coisa de lá e improviso tudo na hora. Me vesti de lambe-lambe, que é uma fantasia bem interativa. Dá pra passar a tarde toda brincando com as pessoas”, disse o músico, que também comanda o bloco infantil Fera Neném. E, por falar nisso, a máquina fotográfica confeccionada por ele acompanha uma caixinha de imagens aleatórias. Posou para o clique, a revelação é na hora e de graça.