Atraso

Quase metade dos brasileiros nunca fez exame de toque retal

Preconceito e machismo são fatores que têm negligenciado prevenção


Publicado em 17 de julho de 2017 | 03:00
 
 
 
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O câncer de próstata é o segundo que mais atinge os brasileiros, perdendo apenas para o de pele. Em 2016, o tumor foi responsável por cerca de 61 mil novos casos que resultaram em mais de 13 mil mortes, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Considerando esse cenário, uma pesquisa que será divulgada nesta segunda (17), feita em sete capitais brasileiras – incluindo Belo Horizonte –, com 1.062 homens acima dos 40 anos, aponta um dado alarmante: quase metade dos entrevistados, 49%, nunca fez exame de toque retal – usado para o diagnóstico precoce. Em Belo Horizonte, a realidade é melhor: 67% passaram pelo processo.

De acordo com o levantamento da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), feito em parceria com o Instituto OncoGuia e a Bayer, os principais motivos para a não-realização do exame ainda são o machismo e o preconceito, que representam 48% e 21% das opiniões, respectivamente. A vergonha é considerada principalmente pelos menos escolarizados e com menor poder aquisitivo.

Os que não consideram o exame “coisa de homem” são a maioria em capitais como Porto Alegre e Curitiba.

Belo Horizonte fica em terceiro lugar, com 36% que dizem não fazer o exame por preconceito. Outros 34% na capital mineira não o fazem por machismo.

Para o oncologista Lucas Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia de Minas Gerais, os dados confirmam o que é uma grande preocupação dos especialistas dentro das clínicas. “Muitos homens ainda negligenciam e não querem falar sobre esse tema, o que contribui, e muito, para o aumento dos casos em estágio avançado. O câncer de próstata é um dos mais graves, porque não apresenta sintomas na fase inicial”, alerta.

Por outro lado, o especialista revela que esse quadro tem mudado nos últimos anos. O mesmo estudo endossa essa constatação: 90% dos brasileiros buscariam tratamento se descobrissem a doença. Entre os homens de Belo Horizonte, esse número chega a 97%.

A conscientização ajudou o engenheiro civil Roberto Gouveia, 66, a se curar do câncer de próstata em 2013. “O meu pai, de 93 anos, teve a doença, fez a cirurgia e se curou. Quando descobri, por meio de uma biópsia, levei apenas dois meses para ser operado. Graças a Deus, nunca mais tive problemas”, afirma Roberto, que faz, anualmente, o exame de toque retal. “Nossa saúde deve estar em primeiro lugar”, garante. 

 

Nem sempre cirurgia é a melhor saída

Um estudo sobre o tratamento do câncer de próstata, realizada durante 20 anos por especialistas da Universidade de Washington, nos EUA, foi divulgada na edição de sexta-feira em O Tempo, após ser publicada na revista científica “The New England Journal of Medicine”. O trabalho confirmou uma suspeita de cientistas americanos: a cirurgia de câncer de próstata, se feita no estágio inicial da doença, não oferece benefícios aos portadores da doença.

Em detecções precoces, esse procedimento, além de não ter prolongado a vida dos homens, foi responsável por diversas complicações, como infecção e incontinência urinária, além da disfunção erétil.

Entretanto, de acordo com o oncologista Lucas Nogueira, não deve haver motivo para alarde. “Nosso desafio deve ser identificar quais pacientes não precisam de cirurgia na fase inicial da doença, o que facilita o processo”, diz. 

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