Imagine que cinco pessoas precisem subir uma ladeira íngreme e o que têm à disposição é apenas um carro 1.0. Elas podem escolher se fazem apenas uma viagem com todas juntas ou se irão dividir-se em dois grupos, indo um de cada vez. A maneira escolhida vai afetar o desempenho do carro e o tempo de viagem. A mesma coisa acontece com o cérebro. O órgão foi feito para receber dados o tempo todo, sem limites. Mas para aproveitar melhor sua capacidade, é preciso administrar a potência de entrada de dados.
Para entender melhor como usar toda a capacidade do órgão, a Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, está realizando estudos com o objetivo de descobrir novas formas para medir, analisar e aumentar as funções cerebrais. Os especialistas usarão os resultados para ajudar as pessoas a lidar com os fatores que afetam a performance mental e achar caminhos para uma ação mais ágil e que não desgaste a mente.
Um dos princípios utilizados no estudo é a comparação do cérebro a um celular. De acordo com o neurocirurgião Ali Rezai, da Universidade de Ohio, a neurocapacidade seria equivalente à memória do aparelho. “Nesse caso, o cérebro não pode funcionar sem recarregar a bateria e não pode operar 100% direto. Além disso, se a capacidade cerebral não for bem gerenciada ou não tiver armazenamento suficiente, as atividades mentais vão ficar comprometidas”, diz.
O especialista ainda afirma que, por esses motivos, comer bem, ter uma boa noite de sono e encontrar formas de distração e descanso ajuda a “recarregar” a bateria do cérebro, especialmente em um cenário em que celulares, videogames, tablets e televisão atuam como estímulos constantes para se manter conectado à tecnologia.
Para o neurologista André Carvalho Felício, professor da pós-graduação em neurologia da Faculdade Ipemed de Ciências Médicas, o cansaço causado por uma realidade de multitarefa e de sobrecarga de informações é físico e emocional. “O cérebro humano foi criado para receber dados sem interrupção e sem limites. Ele é incansável, mas não podemos dizer o mesmo do corpo. Nosso organismo é afetado diretamente pela forma como administramos a entrada dessas informações em nossa mente”, explica Felício.
A neuropsiquiatria acredita que, a médio e longo prazos, as consequências advindas dessa má administração serão sérias. O surgimento de crises de estresse e ansiedade agudas é possível, já que, diante de sobrecargas constantes, o cérebro aumenta o nível de cortisol, levando a uma diminuição da massa cerebral. Essa região é responsável pela parte cognitiva do organismo, voltada para a aquisição do conhecimento. Nesse caso, os processos de aprendizado por meio de percepção, atenção, associação, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem podem ficar comprometidos.
Organização. O neurologista aponta, então, uma solução para o bom gerenciamento das funções mentais: a organização. É preciso elencar e priorizar as tarefas antes de realizá-las.
“Hoje, o excesso de dados leva à multitarefa, fazendo com que se comecem várias coisas de maneira simultânea, mas que dificilmente serão completadas. Organização é a palavra-chave. Não há problema de injetar informações no cérebro, contanto que a vez de cada uma seja respeitada. Cada atividade deve ser priorizada e cumprida, por ordem de importância”, frisa.
Terceira idade
Cuidados podem influenciar no bom envelhecimento
As pessoas que desejam encarar o envelhecimento de forma mais saudável devem começar a mudar seus hábitos o quanto antes, recomenda o geriatra Flávio Chaimowicz, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Devemos pensar na nossa saúde como um patrimônio que conquistamos ao longo da vida, sem interrupção. Hoje temos mais acesso às informações, se compararmos com as gerações passadas, e talvez, teremos menos do que as futuras. Mas isso não nos impede de alterar a nossa rotina o mais rápido possível”, diz.
O especialista destaca que alguns problemas de saúde podem ser desenvolvidos em decorrência do sedentarismo, que pode ser consequência de se passar tempo demais conectado. Entre eles, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o infarto, que são considerados os maiores fatores de risco de morte para a terceira idade no Brasil.
Na opinião de Chaimowicz, a tecnologia não deve ser vista como uma inimiga da saúde, ao contrário, ela pode ser utilizada para a realização de atividades físicas e de lazer. “O principal perigo tecnológico na vida dos idosos, hoje, é a possibilidade de provocar, indiretamente, o surgimento de doenças comuns nessa época da vida, como as doenças de origem circulatória, diabetes, hipertensão, obesidade, artrose – que é problema nos ossos – e erpoartrose – também nos ossos”, diz.
O geriatra recomenda, então, que a pessoa procure videogames e aplicativos que incentivem a prática de exercícios físicos e de atividades prazerosas.