Nova York, EUA. Um dia após completar 80 anos, Bill Dodson, de Mountain View, na Califórnia, testou seus limites. No frio do parque estadual Caumsett, em Long Island – competindo em uma corrida de 50 km que também servia como campeonato nacional dos Estados Unidos para essa distância –, Dodson se entregou ao esforço tenaz de estabelecer um recorde para a faixa etária dos 80 a 85 anos.
Tomando por base seus desempenhos anteriores, o recorde atual – cinco horas, 54 minutos e 59 segundos – parecia possível. Contudo, à medida que passava o dia invernal, flocos de neve começaram a cair e, quando Dodson encarava os últimos 5 km, caía uma nevasca.
“Eu me forcei aos limites absolutos”, o corredor declarou mais tarde. E foi isso mesmo. Com a linha de chegada à vista, ele tombou. E se arrastou até lá.
Não quebrou o recorde por oito segundos.
Naquele dia, Dodson, programador de computador aposentado e avô de seis netos, foi exposto ao clima, bem como o vencedor geral, um jovem com idade para ser um de seus netos, Zachary Ornelas, 23, que cobriu a distância em duas horas e 52 minutos.
PESQUISA. “Tenho a impressão que ele é motivado por um objetivo”, disse Martin D. Hoffman, professor de medicina física e reabilitação da Universidade da Califórnia e principal pesquisador de um estudo contínuo sobre corredores mais velhos. Entre as descobertas da pesquisa está o fato de que os esportistas mais jovens e menos experientes nas ultramaratonas – geralmente, corridas com mais de 43 km – correm maior risco de lesão.
Não faltam teorias para explicar o motivo: os ultramaratonistas, principalmente os mais velhos, costumam correr mais, mas não muito rápido. Eles sabem dosar o ritmo. São tarimbados e podem mobilizar seus recursos adequadamente para o grande dia em vez de enfrentarem os quilômetros no treinamento dia após dia. E, como as ultramaratonas costumam ser realizadas em trilhas, as pancadas que as juntas dos corredores sofrem poderiam ser menos severas do que em uma maratona no asfalto inclemente da cidade.
Dodson competiu durante anos sem problemas. Sua maior lesão, uma hérnia de disco aos 70 anos, veio de um mau jeito ao tentar arrancar uma planta particularmente teimosa no quintal.
Segundo Bryon Powell, de Moab, em Utah, que mantém estatísticas sobre ultramaratonistas no seu site iRunFar.com, perto de 20% de todos os que terminaram essas corridas nos Estados Unidos no ano passado tinham pelo menos 50 anos.
Entre as características que permitiram a esses corredores, principalmente homens, percorrer a distância estão atributos geralmente encontrados em idosos: paciência, cautela e confiança em padrões bem-estabelecidos.
Motivação. Os corredores mais velhos correm de forma mais lenta e têm mais cautela e regularidade nos hábitos de treinamento e corrida, mas isso não quer dizer que sejam menos motivados.
Em 11 de abril, Dodson estava em busca de outro recorde, desta vez no campeonato nacional de 100 km, em Wisconsin. Após 15 horas, cinco minutos e 47 segundos dando voltas no lago Wingra, ele quebrou o recorde nacional para a faixa entre 80 e 85 anos em mais de duas horas e meia. Ao se lembrar daquele longo dia frio no parque estadual, seis semanas antes, ele acrescentou: “Foi ótimo terminar em pé”.
Flash
Número. Embora em número muito menor do que os maratonistas, os corredores que acabaram uma ultramaratona nos Estados Unidos cresceram cerca de 50% nos últimos cinco anos, saltando de 25 mil para 30 mil em 2014.