As cores são fortes, vibrantes. As paredes, os ornamentos, as deidades e o espaço externo, cercado de muito verde, remetem o visitante a uma dimensão delicada, sagrada, indizível.
Fundado há 22 anos no condomínio Aldeia da Cachoeira das Pedras, no distrito de Casa Branca, em Brumadinho, o Centro Chagdud Gonpa Dawa Drolma acaba de receber pintura tradicional tibetana pelas mãos de Singa Dorje, 41, nascido na cidade de Kyul-6, em Sindhupalchok, no Nepal.
Descendente de uma família de lamas budistas da linhagem Nyngma, o monge faz parte de uma família de artistas que segue a tradição budista tibetana e que produz esculturas, altares, tapetes e pinturas sagradas.
Especialista em monastérios, Singa aprendeu a arte de pintar imagens budistas com o seu tio Djampa Dorje, quando tinha apenas 13 anos. Foram seis anos de aprendizado intenso até pintar a sua primeira thanka, do Budha Sakyamuni, e o primeiro templo,na fronteira com o Tibete.
O artista chegou ao Brasil há 14 anos a convite do lama Chagdud Tulku Rinpoche para pintar o templo principal, Khadro Ling; a Terra Pura de Padmasambhava, Zangdog Palri, e outros importantes monumentos.
Naquela época, o psicólogo Salim Zaidan, 61, que trouxe o budismo tibetano para Belo Horizonte e foi o idealizador do templo de Casa Branca, esteve com Singa.
“Desde o início da construção do templo, o nosso desejo era ornamentá-lo, mas não tínhamos dinheiro e nem pintor. Em 2001, o lama Chagdud Rinpoche, nosso líder espiritual, convidou o nepalês para vir ao Brasil para pintar o templo Três Coroas, no Rio Grande do Sul. Fiz um convite a ele, para que quando pudesse viesse pintar o nosso centro. Isso demorou 14 anos para acontecer”, comenta Salim.
Com a peculiar paciência e o preciosismo de monge budista, Singa levou um ano e meio para concluir a pintura do Centro Dawa Drolma, que nada fica a dever aos templos do Nepal.
“Há 15 anos pinto templos, e estou muito feliz, porque as pessoas têm gostado da minha arte, do meu trabalho. Esse período que estive aqui no Dawa Drolma foi muito bom. Essa calma e tranquilidade foram fundamentais para o meu trabalho. Além de meditar todas as manhãs, eu passei várias horas pintando, sozinho, sem ninguém para conversar. Foram momentos em que a meditação acontecia naturalmente”, diz ele.
Seu trabalho terminou, mas seu talento e arte estão em cada detalhe do templo, onde se vê cores intensas e, ao mesmo tempo, harmoniosas.
“A pintura budista é muito colorida, provocando uma sensação de alegria e bem-estar nas pessoas. Foram vários os momentos em que elas pediram para ficar ali, um pouco mais para meditar. Depois retornavam trazendo outros amigos para compartilharem aquele momento. Percebi que elas saíam daqui com a cabeça mais leve. Vou embora, mas deixo a minha arte para toda a sanga (grupo de praticantes) a fim de torná-la mais feliz”, conclui Singa.
A palavra Dawa Drolma significa lua de Tara ou o aspecto feminino da mente do Buda. “O curioso é que quando os arquitetos Flávio Carsalade e Carlos Solano criaram o projeto do centro, não tínhamos contato com a tradição budista tibetana, mas sabíamos que seus templos são geralmente retangulares, quadrados. Apenas seguindo a intuição, eles conceberam um espaço que se assemelha a uma meia lua de Tara”, explica Salim.
SERVIÇO: Aos sábados e domingos, às 10h, acontecem cerimônias no Centro Chagdud Gonpa Dawa Drolma, mas é preciso se inscrever com antecedência. Às segundas-feiras, a meditação acontece na avenida Nossa Senhora do Carmo, 660, sala 202, Sion. Todas as quintas-feiras, a partir do dia 7 de maio, das 19h às 20h30, vai acontecer o Chá com Shamata – reflexões budistas entre amigos. A entrada é aberta. Informações: (31) 9562-7967.
O que conhecer no templo
Estupa – Monumento que abriga relíquias sagradas de mestres e as cinzas do Chagdud Rinpoche, ser iluminado e líder espiritual do templo.
Roda de oração – Artifício para acumular méritos. A tradição budista tibetana acredita que os mantras que estão contidos nas rodas, ao girarem, propagam e geram benefícios para toda a humanidade e todo o universo.
Padmasambhava – Foi quem levou o budismo para o Tibete, patrono do budismo tibetano.
Casa das lamparinas – Espaço em que as pessoas podem acumular méritos, oferecendo luz para a escuridão da mente, por meio de lamparinas.
Fala do lama
Chagdud Rinpoche. Quando indagado sobre o que os praticantes representavam para ele, respondeu: “minhas pernas e meus braços”. Sua expectativa era a de que eles se iluminassem.