Em tempos de globalização, o visitante de primeira viagem percebe, rapidamente, que Belém, capital paraense, respira autenticidade. Como uma metrópole de aproximadamente 1,4 milhão de habitantes, entretanto, não deixa de ter problemas típicos de nossas grandes cidades. A diferença – e atrativo turístico – é estar no meio da gigantesca floresta amazônica e apresentar, entre as tantas “Amazônias” brasileiras, uma personalidade para chamar de sua.
Essa identidade, que, à sua própria maneira, sintetiza o Pará, aparece em diferentes facetas. Uma das mais celebradas é a música, que vem ganhando destaque no cenário nacional, com ritmos paraenses como o carimbó, o brega e a guitarrada. Fazendo jus à história e localização geografia de Belém, eles têm várias influências, como indígena, europeia, africana e caribenha.
A autenticidade da gastronomia também vem abrindo espaço para o Pará em todo o Brasil, com iguarias como o queijo do Marajó e ingredientes que mostram, no próprio nome, a origem natural e indígena: o jambu, o tucupi, o bacuri, o taperebá, o pirarucu...
Dos modernos e sofisticados restaurantes às barraquinhas de ruas – que enchem no fim de tarde, vendendo tacacá e açaí com farinha ou tapioca –, uma coisa é certa: o belenense não abre mão da sua própria cozinha.
Praias inexploradas
Na contramão da tradição, Belém chama a atenção pela rápida urbanização. As torres, conjuntos de prédios com dezenas de andares, se multiplicam por vários bairros da cidade. Os shoppings se espalham e têm seus corredores lotados nos fins de semana. Nos bastidores das mudanças, entre as cem maiores cidades brasileiras, a capital está em 95º em saneamento básico, segundo o Instituto Trata Brasil. As faces do crescimento desordenado estão no trânsito e na violência, o que exige atenção do visitante.
E, para além da cidade e dos pontos turísticos mais conhecidos, existem tranquilas e inexploradas opções. Belém é rodeada por 18 ilhas, lar dos ribeirinhos e de uma natureza ainda preservada. Um dos oito distritos da capital, Icoaraci, tem a função de resguardar a cultura local, abrigando o maior polo de produção de cerâmica marajoara do país. É dali, inclusive, que saem os popopôs – aquelas pequenas embarcações, cujo nome vem do barulho do motor – para Cotijuba, que oferece praias de água doce. E, é bom lembrar, desertas nos dias úteis.
A maioria das ilhas de Belém não recebe visitantes, servindo como moradia e subsídio dos ribeirinhos. Mais próximo à cidade, estão a ilha do Combu, frequentada por belenenses nos almoços de fim de semana, e a ilha dos Papagaios, onde se pode observar uma bela revoada de aves ao amanhecer. Para os que dispõem de mais tempo, há ainda os locais mais distantes, como Mosqueiro e Outeiro.
Os parques Mangal das Garças e Emílio Goeldi são também ótimas escapadas do burburinho de Belém – que pode ter seu volume diminuído, momentaneamente, em prol dos sons da Amazônia paraense.
Cotijuba
Mordomia de lado
Uma das poucas ilhas de Belém a oferecer balneários com areia, Cotijuba é repleta deles: em seus 16 km² há seis praias. Badaladas nos fins de semana, em dias úteis ficam quase desertas. Para aproveitar um bom banho de rio e a proximidade com a mata, no entanto, é preciso deixar algumas mordomias, digamos, em Belém.
A ilha é rústica no bom e no mau sentido da palavra. As ruas são de terra, e a locomoção é feita a pé, com carroças ou mototáxis. As opções de alimentação e hospedagem são humildes – mas, nesse caso, não se preocupe: um bate-volta a partir de Belém já vale bastante a pena.
Barcos para Cotijuba, os popopôs, saem do Porto de Icoaraci, distrito de Belém. De táxi, a viagem do centro da capital até lá custa cerca de R$ 75 (uma perna). Há também várias linhas de ônibus que fazem o trajeto.
Em Icoaraci, a Cooperativa de Barqueiros da Ilha de Cotijuba oferece transporte diário, a cada hora, das 7h às 18h30. O preço é R$ 15, e o trajeto dura 40 minutos.
Cerâmica marajoara e outros atrativos
Vai quem quer. A praia mais famosa da ilha é a Vai Quem Quer. Por ser distante do trapiche, os moradores brincam que ela se chama “Vai quem pode”. Para chegar até lá, tem que se aventurar, a R$ 7 uma perna, em uma charrete ou mototáxi, sem capacete – prefira os de cor branca, da cooperativa. O lugar possui alguns restaurantes e chama a atenção por sua beleza e extensão.
Praias Funda e da Saudade. Mais rústicas. Para quem preferir não se aventurar em charretes e mototáxis e estiver disposto a caminhar por cerca de 15 minutos, há também as praias do Amor e do Farol – esta é a que tem melhor estrutura e é a mais movimentada. Em qualquer uma das praias, ao seguir as instruções dos locais, você vai ter certeza que está no meio da Amazônia: cuidado com as arraias e com a correnteza. Para a primeira recomendação, entre no rio arrastando os pés na areia para afastá-las; no segundo caso, basta não ir muito para o fundo.
Feira do Paracuri. Antes ou depois da visita à Cotijuba, vale a pena conferir a Feira do Paracuri, a alguns metros do Porto de Icoaraci. O distrito é hoje o maior produtor de cerâmica marajoara no país, oferecendo réplicas e releituras modernas da arte indígena centenária realizada na Ilha do Marajó.
Paracuri, bairro de Icoaraci, reúne diversos produtores e o Liceu de Artes e Ofícios Mestre Raimundo Cardoso, em homenagem a um dos expoentes da técnica, morto em 2006. Na feira, artesãos vendem itens utilitários e decorativos a melhores preços do que em Belém.