A internet está se tornando palco para que pessoas com deficiência se apresentem para o mundo e ajudem a eliminar as barreiras, construídas pela sociedade, que impedem a inclusão de maneira efetiva. Esse espaço tem sido conquistado cada vez mais por youtubers surdos, que, por meio de vídeos, compartilham experiências, tratam de assuntos do cotidiano, promovem debates culturais e ensinam Língua Brasileira de Sinais (Libras). Mas o principal objetivo, afirmam eles, é escancarar as portas desse universo para a sociedade.
“Queremos mostrar para os surdos e ouvintes que podemos fazer tudo, mostrar como é importante Libras na família, na sociedade, demonstrar como nós nos sentimos com diversos temas”, explica Andrei Borges, 23. O jovem de Caxias do Sul é surdo e, junto com sua irmã Tainá Borges, também surda, comanda desde 2016 o canal Visurdo, do YouTube, que tem mais de 26 mil usuários. Andrei afirma que a internet é uma das ferramentas mais importantes para ter contato com a comunidade ouvinte.
Com a ajuda da família, os irmãos gravam e editam os vídeos em casa. Os temas são variados e ainda incluem informações sobre como lidar com o preconceito. “A tecnologia ajuda muito hoje na acessibilidade e nos ajudou muito a crescer. Estamos quebrando barreiras cada vez mais, falando sobre os surdos, sobre nossas vidas e temas variados”, declara Andrei.
Companhia. Outro sucesso no YouTube se chama É Libras, que trata de comportamento e relacionamento para a comunidade surda. Liderado pela dupla Bruno Straforini, 27, e Flávia Lima, 25, o canal surgiu também em 2016. “Alguns surdos não têm comunicação dentro de casa e estudam em escolas em que a maioria dos alunos é ouvinte, por isso acabam não tendo com quem conversar sobre assuntos assim”, explica Flávia.
Bruno, que é surdo desde o nascimento, conta que aprendeu a linguagem aos 13 anos. “Tive muito atraso em todos os âmbitos. A Libras me trouxe todo o conhecimento de mundo e informações que os ouvintes acessam com o português. Eu me senti capaz pela primeira vez na vida”, diz.
Por meio do canal, o rapaz enxerga uma forma de ajudar a comunidade surda. “Quero que outros surdos tenham acesso a tudo isso, se possível antes do que eu tive. Quero que eles enxerguem possibilidades além das que as famílias dizem que eles têm”, garante Bruno.
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Futuro. “A sociedade está dando valorização à comunidade surda, mas ainda estamos lutando no passo a passo para conseguir cada dia mais”, afirma Andrei Borges.
Empoderamento com tecnologia
Reconhecer o surdo como cidadão e garantir uma comunicação que não o exclua: esse é o papel da tecnologia, afirma Regiane Garcêz, professora de comunicação da UFMG. “É muito comum observar a exclusão dos surdos do mundo das informações, por consequências sociais, porque são conteúdos verbais ou em língua portuguesa escrita, que é considerada a segunda língua deles”, diz. Regiane teve como tese de doutorado a representação política e social no debate sobre a educação de surdos.
“As novas tecnologias, em especial os vídeos, vêm ajudando a divulgar a língua brasileira de sinais, mas o reconhecimento deve ser como o das outras línguas, já que isso está previsto em lei. Precisamos minimizar o preconceito, promovendo a realidade que é característica da comunidade surda e valorizando-a”, diz. Quanto ao aprendizado de Libras, Regiane enfatiza a importância de se buscarem cursos reconhecidos, com professores formados na área.
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Diferença. “A forma de usar os elementos visuais, a edição, é muito própria da cultura dos surdos, tendo poucas palavras ou nenhuma”, diz a professora Regiane Garcêz.