Exatamente 50 anos após o episódio que ficou conhecido como Massacre de Ipatinga, a Comissão Nacional da Verdade realizou ontem audiência pública para apurar o caso de violência praticado por policiais no Vale do Aço. Na ocasião, pelo menos oito trabalhadores da Usiminas foram mortos com tiros disparados pela PM mineira. O caso ficou conhecido como uma prévia da repressão militar iniciada um ano depois, em 1964.
Durante a audiência, foram ouvidos sobreviventes, familiares das vítimas, policiais e um representante da Usiminas. De acordo com a presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na região e membro do Fórum Memória e Verdade do Vale do Aço, Feliciana Saldanha, o objetivo é apurar os fatos envolvendo o caso. “Existem três pontos a serem esclarecidos sobre o massacre: número de mortes, quem deu a ordem e se os responsáveis foram punidos. Algumas pessoas dizem que os policiais foram presos, mas ninguém da conta disso”.
Segundo Feliciana, há indicações de que as mortes em decorrência do episódio superam o número oficial. Algumas estimativas indicam que cerca de 30 pessoas foram assassinadas.
A coordenadora do grupo de trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso, disse que ainda é cedo para questionar o número de vítimas. “Embora esse seja um fato de extremo interesse, há também questões de responsabilização que são muito importantes”.
Segundo ela, pelo menos outras duas audiências públicas serão realizadas para apurar os fatos. Agora, a Comissão da Verdade solicitará, oficialmente, documentos a Usiminas para aprofundar as investigações. O representante da empresa presente à audiência de ontem já se comprometeu a disponibilizar o material.
Rosa lembrou que o Massacre de Ipatinga antecipou um comportamento típico da ditadura no Brasil. “Esse episódio é um caso exemplar para o movimento sindical por prenunciar muito claramente o tipo de visão que os governos militares teriam com a classe trabalhadora, além de evidenciar a posição repressora da Usiminas na época”, destacou.
Ela relembrou ainda o papel da Comissão da Verdade. De acordo com Rosa, mais do que fazer história, o grupo tem a função de elaborar verdadeiros inquéritos, que apontem vítimas e responsáveis.
Fórum
Criação. Atualmente está em criação o Fórum Memória e Liberdade Vale do Aço. A ideia, segundo Feliciana Saldanha, é esclarecer outras violações dos direitos humanos ocorridos na região.