Foi identificado, nesta quarta-feira (3), o corpo da travesti Sophia Castro, 21. Ela foi estrangulada por um cliente na noite do último sábado (29) no bairro Eldorado, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte e encontrada morta dentro da casa dele. De acordo com a Polícia Militar, o autor do crime, de 42 anos, contou que ele e a vítima tinham se desentendido e começaram uma luta corporal utilizando um martelo.
Ainda segundo a polícia, após cometer o crime, o suspeito ligou para um amigo e disse que tinha “feito merda” e precisava dele. Ao chegar no local a testemunha encontrou o autor ferido e dizendo que tinha matado a travesti. A testemunha preferiu não entrar no apartamento e acionou a Polícia Militar por volta de 22h do último sábado.
Os militares chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e os médicos constataram a morte de Sophia. Segundo a polícia, os médicos do SAMU informaram que, pela rigidez do corpo, havia cerca de 6 horas que ela estava morta. O autor foi preso em flagrante e, após passar por exames no Instituto Médico-Legal (IML), foi encaminhado para a Delegacia de Plantão de Polícia Civil de Contagem.
O suspeito contou aos militares que os dois brigaram e que a vítima começou a agredi-lo com um martelo. Ele teria se defendido das agressões e durante a briga acabou estrangulando Sophia. O corpo da jovem também estava com marteladas. O autor não esclareceu o motivo da briga.
Sophia era natural da cidade de Goiânia e morava em Contagem com três amigas. Ela fazia programas para sobreviver. No dia de sua morte, a travesti tinha saído para fazer programa e encontrou com o suspeito do crime na Via Expressa onde entrou no carro e foi para o apartamento do autor.
As colegas de casa da vítima estranharam o fato dela não ter voltado para casa desde o último sábado, mas imaginaram que ela poderia estar na casa de alguma amiga e resolveram esperar para ver se ela voltaria para casa. Como Sophia não voltou elas foram até hospitais, procuraram a polícia e encontraram o corpo dela no IML. A família da vítima é toda de Goiânia e está vindo para Contagem, após saber da morte.
A travesti Leona Blanco, 30, lamentou a morte da amiga. “Nós morávamos juntas há um ano. A Sophia era uma pessoa maravilhosa com um ótimo coração e muito tranquilo. Nós ficamos em estado de choque com esse acontecimento”, relatou.
Pelas redes sociais como o Facebook várias pessoas que conheciam Sophia lamentaram a morte dela. Como a família é de Goiânia, os amigos de Contagem tiveram que avisar os familiares por meio da rede social. O suspeito está preso no Ceresp Contagem.
Situação de vulnerabilidade expõe travestis a crimes
“Para nós a exclusão começa desde cedo, já na escola começamos a sofrer preconceito e logo paramos de estudar. Sem estudo a gente não consegue emprego e acabamos caindo na prostituição”, conta Leona. Segundo ela, os pais também acabam dando mal exemplo para os filhos, passando de carro próximo as travestis e xingando elas.
“É muito complicado porque a gente entra em um carro e não sabemos se a pessoa que está ali é um criminoso ou o que vai fazer com a gente. Muitos clientes pagam para que as travestis usem drogas com ele e algumas se sujeitam a isso por necessidade”, conta.
Segundo Leona também acontecem muitos roubos e em alguns elas são levadas no carro. “Já me pegaram na Via Expressa e me soltaram em Betim, me levaram tudo e me deixaram até sem as roupas. Uma viatura que me trouxe para casa. A verdade é que todas nós saimos de casa para trabalhar com medo. A gente sai sem saber se vai voltar”, lamenta Leona.
De acordo com a Rede Trans Brasil, 54 travestis e mulheres transexuais foram assassinadas neste ano em todo Brasil.