Numa convivência quase pacífica, aqui, no Paranã profundo, com muriçocas, formigas, camaleões, pipiras, rolinhas e bem-te-vis, e bem mais consciente de que a invasora sou eu, reli “Causos Russos”, de Mikhail Mikhailovitch Zochtchenko (1895-1958) – contos curtos de humor sobre a vida após a Revolução de Outubro de 1917, centrados no que ele chamava de “filisteu”: pessoa ignorante e, muitas vezes, grosseira, que aceita ostensivamente o novo regime, mas não entende nada dele, como registrou Tatiana Belinky na introdução de “Causos Russos” (Edições Paulinas, 1988).
Ele é um adorável escritor ucraniano que vivia na Rússia. Deixou de ser publicado na década de 40 e foi expulso da União dos Escritores sob a alegação de “insultar o povo soviético”. Sectarismo bem pé de maxixe: rasteiríssimo! Fiquei matutando sobre a frase final do causo “Limonada”: “A vida dita as suas próprias leis. A gente tem de se submeter”.
Entendi! Submeto-me às minhas pequenas felicidades e infelicidades. Mas há grandes felicidades: no caminho de terra que leva à minha residência, via cachos de flores de amor-agarradinho num terreno baldio ao lado de uma casa. Há mais de uma semana resolvi parar e pedir uma muda.
Uma adolescente disse-me rindo: “Isso aí, essa trepadeira? Uma mudinha? Desça do carro e veja a mata que é! Virou praga. Ninguém sabe quem é o dono do terreno, e mamãe mandava cortar, mas, quanto mais corta, mais nasce!”. Fiquei extasiada! Agora, colho flores orvalhadas de amor-agarradinho para meus vasos da sala. E fiz uma mudinha, que a faxineira sentenciou: “Arrumando comidinha florida pros camaleões, né? Assim vão ficar aqui para sempre!”
Em “Sem sossego entre formigas, muriçocas, camaleões e pipiras”, pedi ajuda a quem lê (O TEMPO, 19.8.2014). Recebi mil e uma dicas, além de indicações de sites/blogs sobre o tema. Perguntando na vizinhança o que fazer, a resposta foi, invariavelmente: “Mulher, bote veneno! Sem usar veneno não vai aguentar!” Uma disse: “Só ainda não inventaram veneno pra essa gente de Sarney e Lobão!” Foi a deixa pra nadar de braçada no “Passim do 65”: “Ah, veneno para Sarney e Lobão? Inventamos sim: Flávio Dino!”.
Desde a semana passada meti a cara lendo sobre biopesticidas e inseticidas naturais. Encontrei muitas trilhas ecológicas, que pretendo seguir, além da borra de café, que é adubo e inseticida – mata o mosquito da dengue (descoberta da bióloga Alessandra Laranja) –; e a borra sem açúcar espanta formigas (funciona!), além do que derramar café líquido (frio, viu, gente!) no formigueiro é “tiro e queda!”
Certas plantas atraem insetos, outras os afastam, tais como alecrim – repele mosquitos, e gatos não suportam o cheiro; citronela – repelente de mosquitos e pernilongos; crisântemo – repelente de baratas, percevejos, pulgas e carrapatos; lavanda – espanta mosquitos; hortelã – formiga odeia; manjericão – afasta moscas e mosquitos; e pimenta – contra insetos em geral (já plantei vários pés de malagueta!).
Na próxima semana, plantarei todas no jardim e no quintal, pois são opções sustentáveis. Enquanto não tenho todas, salpiquei umas folhinhas de hortelã e de manjericão em torno das plantas novas, do jardim e da horta, e as sábias formigas mudam de caminho que é uma beleza! Ah, minha matinha de girassóis está um encanto, com as plantinhas mais ou menos uns 20 cm de altura e muitas folhas... Acabei de descobrir que as pétalas do girassol são comestíveis e possuem um sabor agridoce. E eu adoro salada de flores...
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Inseticidas naturais e uma mata de amor-agarradinho
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