Os climas político-eleitorais puxam bordões, refrãos, chavões e abordagens, todos centrados na ideia de dar respostas satisfatórias às demandas sociais. Bengala de apoio para candidatos e partidos, as receitas procuram chamar a atenção dos eleitores, razão pela qual se esforçam para apresentar um diferencial na expressão.
São frequentes, no desfile dos modismos, formas extravagantes de apresentação, trejeitos, esquisitices e coisas obtusas. Costuma-se designar esse território como “dandismo”, significando o “prazer de espantar”. Dândis praticam a arte de surpreender. O mestre Baudelaire dizia: “Creio que existe na ação política certa dose de provocação, por ser preciso suscitar uma reação”. Os dândis querem provocar, criar impacto. E caem no exagero, fazendo da estética sua ação política.
Lembrando o passado: Lula desfilou com um isopor na cabeça quando descansava numa praia baiana; Fernando Henrique, em 1994, montou num cavalo no interior de Pernambuco e se esbaldou comendo buchada de bode. Quando senador, Suplicy desfilou nos corredores do Senado com um curto short vermelho oferecido a ele por Sabrina Sato. Quem não se lembra das palhaçadas de campanha de Tiririca?
A campanha deste ano, na esteira da crise que afasta o eleitorado da política, será um prato cheio para os dândis, que pretendem criar um diferencial de imagem. Excessos serão tolerados, aceitos ou menosprezados pelos eleitores? É possível que, face à indignação que permeia grupos contrariados com os escândalos que queimam os últimos estoques de imagem dos políticos, alguns até prefiram votar no macaco Tião ou na macaca Chita. Mas a hipótese razoável é a de que o eleitor não quer perder o voto.
A tendência será a de escolher o candidato que tenha algo novo a dizer, coisas críveis e factíveis. Já não se aceitam promessas mirabolantes. A estripulia circense está com os dias contados. O desejo do eleitor aponta para perfis não contaminados com o vírus da mesmice, gente nova – não apenas na idade – que agregue experiência profissional ao campo devastado da política.
Aparecer a qualquer custo e participar de encenação farsesca é ato desprezado pelos eleitores. O nivelamento por baixo é costume antigo, mas desta feita ameaça não prosperar. Mesmo sabendo que a planilha de candidatos deve abrigar um grupo de incultos e bárbaros.
Mas haverá espaço para brabeza, palavras duras, críticas severas, murros na mesa. Quem conterá o estilo tonitruante de Ciro Gomes? Não se espere palavra doce de Bolsonaro. A índole pacífica de Geraldo Alckmin deverá, nas curvas da campanha, deslizar para uma tirada mais raivosa. E mesmo o jeito de freira de Marina Silva pode ceder lugar ao modo guerreiro de Joana D’Arc. E se Lula conseguir ser candidato e aparecer carregando uma cruz?
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