Telefone tem duas ou três boas serventias além da conversa com parentes e amigos. Chamar por socorro, pedir assistência 24 horas a veículo e entrega de comida a domicílio, ou “delivery”. Na época em que a empresa telefônica fornecia os saudosos catálogos, as páginas amarelas serviam para que o vendedor antecipasse se a loja tinha isso ou aquilo. Conforme a boa vontade do cidadão, até orçamento era possível fazer. Mas isso é coisa do passado. Agora, na melhor das hipóteses você se perde entre as informações de um site da loja, que pode ter tudo, menos o que você realmente precisa saber.
Valho-me com frequência do delivery. Quando a gente está gripado, por exemplo, ou quando chegou bem tarde e cansado em casa, salva-nos da fome e da pouca vontade de fritar um ovo. Numa noite de preguiça em que se troca o cinema pela televisão, a buzina do motoqueiro interrompe o piado monótono dos pássaros noturnos e injeta um sopro de vida que faz o corpo se mover num solavanco, subir a escada para pegar o azeite, o guardanapo, o prato e os talheres, mais o copo para o refrigerante. Este chega sempre geladinho. A pizza, às vezes.
Telefonar e pedir uma pizza não é melhor do que sentar-se à mesa da pizzaria e esperar que o garçom traga a bandeja ainda fumegante. Os sacolejos da motocicleta deslocam o recheio da metade à moda para a outra à margherita. E aí, quem pediu a primeira encontra uma de mozzarella e o vegetariano tem que se esforçar para ficar livre das rodelinhas de calabresa que avançaram sobre a sua metade.
Conheci a pizza da Dona Redonda no pequeno estabelecimento onde é feita, na rua Inconfidentes, na Savassi, quase esquina de Cristóvão Colombo. As moças que comandam a franquia, com sede em São Carlos e filial em São Paulo, esclarecem que a casa foi aberta há três semanas e o foco é a entrega a domicílio, possível inclusive em alguns condomínios de Nova Lima. Gostei muito do jeito de trabalhar da equipe. As pizzas de presunto de parma e tomate e de bacon com escarola e aspargos estavam deliciosas, massa e recheio bem feitos. Pretendo pedi-las por telefone e assim compensar um pouco os dissabores da telefonia.
Você administra um call center? Se sim, vai aí um desabafo. Mas faço-o receoso de que possa tomá-lo como sinistra e lucrativa ideia. Pensando bem, tomara que você não seja gerente de call center. Pensando melhor ainda, nem é preciso desejar isso. Gestor de call center não deve ter tempo nem interesse por gastronomia, na sua função indigesta como a daqueles capatazes de indústria do início do século XX, que punham as crianças de Charles Dickens para trabalhar 16 horas por dia. Dentro em breve, quando já não valer a pena pagarem aos nossos moços, que tanto podem ter sotaque paulista quanto nordestino, o salário mínimo brasileiro, hão de contratar uns coitados de Bangladesh, para aprender português em 15 dias, trabalhando em troca de prato de comida. E se não aprenderem? Problema algum. A telefonia, ruim como está, se encarrega de que caia a ligação ou o som desapareça, até o consumidor desanimar.
O péssimo serviço dos call centers vai das operadoras de TV a cabo às seguradoras, dos bancos às empresas de aviação e a gente se pergunta: que eficiência é essa do setor privado, quando se está diante de corporações que não tem nenhuma diferença ante a pior das repartições públicas?
Concorrência a gente vê entre os bares de esquina, os restaurantes, os pet shops. Na raia graúda, os princípios liberais da concorrência vão para o saco, enquanto os capitalistas vão andar de iate em Mônaco. É esse, afinal, o problema do liberalismo econômico, que na teoria também tem sua beleza: ele é tão utópico quanto o comunismo.
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