Não há dia que a imprensa não traga uma notícia de desvio ou mau uso dos recursos públicos no Brasil. Abstraindo-nos da operação Lava Jato, já por demais conhecida, e dos mensalões, o nacional e o regional, – esse último andando a passos de tartaruga no Judiciário mineiro –, a cada dia pode-se tomar conhecimento de superfaturamentos, de compras por meio de fornecedores fantasmas, da imoral contratação de assessores parentes de deputados e vereadores, do pagamento de diárias milionárias a quem não viaja ou viaja sem necessidade, enfim, o que há de pior de práticas sustentadas pelo Orçamento público. Isso num momento em que se alega absoluta falta de receitas para a manutenção do mínimo, especialmente pelas prefeituras, para assim fecharem escolas, postos de saúde, hospitais, creches, parcelarem folhas de vencimentos de servidores ou até mesmo não lhes pagar salários devidos.
Uma triste realidade porque, muitas vezes, essa situação decorre da incapacidade dos gestores públicos, eleitos por um povo malformado e, por consequência, desinformado. Noutras circunstâncias, tal quadro associa a incapacidade de gerir e administrar a posturas gritantes de desonestidade e improbidade. Chovem denúncias que movimentam timidamente as Câmaras Municipais, o Ministério Público, os tribunais de contas, as delegacias de polícia, e quase sempre resultam em nada, especialmente porque os prazos de prescrição e preclusão dos atos processuais cerceiam o Judiciário no julgamento e consequente aplicação de penas. Exemplos são prefeituras mais distantes da capital, invariavelmente de cidades que vivem um quadro de miséria, como por exemplo Montalvânia, no nosso extremo norte, onde o prefeito responde por haver pagado a maior pela contratação da banda Chicletes com Banana, que lá se apresentou num dos cinco dias de festejos do aniversário da cidade. Não se sabe o que é pior: se é o denunciado superfaturamento do valor pago ou se é contratar uma banda de música baiana para tocar numa cidade onde se nota um forte quadro de carências e de miséria.
Isso é revoltante. É fazer o povo de idiota, tripudiar sobre o sofrimento de uma população que não tem a quem recorrer ou em quem pedir socorro. Bom momento este em que se avizinham eleições nas quais são candidatos novos ou, muitos, prefeitos em reeleição; vereadores, muitos ineficientes ou acumpliciados com esse quadro de indigência moral. É hora de renovar, de escolher bem, de não permitir que se elejam aqueles que sabemos apenas desejarem pôr nos bolsos o que certamente faltará para o custeio das obrigações genuínas do poder público. A contratação de conjuntos musicais não integra esse rol. É um desrespeito de quem o faz. Superfaturando seu custo, ainda muito pior. Não desperdicemos esse momento que nos permite escolher melhor quem pode, com seu trabalho e honestidade, fazer diferença à vida das nossas cidades, das nossas famílias e à nossa também. Chega de descaso.
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