Passei a última sexta-feira avaliando as manifestações sobre a “prisão” do ex-presidente Lula em seu apê, aquele que ele reconhece como “compro e pago” por ele, lá em São Bernardo do Campo. Na verdade um lixo de apart, uma espelunca, se comparado àquele que ele estava ajudando o proprietário amigo a reformar, com sugestões de decoração de ambientes. Lula é um homem exemplar sob todos os aspectos de análise. Operário de importante indústria automecânica, na região do ABC, ele ascendeu à condição de maior líder popular da América Latina dos últimos 40 anos. Uma trajetória invejável, especialmente porque foi o centro da fundação de um partido, o PT, em cuja história se abrigou relevante participação nos atos mais representativos e marcantes da vida política e social brasileira.
Como líder sindical e depois como dirigente partidário, enfrentou a ditadura militar, lutou pela reconquista das liberdades, foi preso e torturado nos porões da repressão. Lutou pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária, pela valorização dos salários, pelo acesso das classes mais pobres aos benefícios do desenvolvimento. No seu governo, negros se beneficiaram da política de cotas que, se reconhecidamente tem erros de concepção, que prejudicam seu caráter reformador, também é certo que fez abrigarem-se nas universidades públicas parcelas da população universitária antes excluídas. Na verdade, muito mais do que pela sua condição racial, pelo seu perfil socioeconômico.
Nos governos Lula também, segundo ele próprio, (o Lula), pobres passaram a andar de avião, a ter carro próprio, a fazer curso superior, a comer, a comprar cueca e lingerie de renda, a ir para a praia, ao baile funk, a não ter vergonha de torcer pro Curintiãs, pro Mengo e em Minas, porque sou cruzeirense, não falo.
Concordo com Lula em tudo, para não polemizar. Ele está correto. O que eu não entendo é porque um cara tão bom, tão criativo, tão sensibilizado com o drama vivido pela expressiva maioria dessa sociedade pobre, fu..., desassistida, desamparada, sofrida, faminta, consequência de uma histórica falta de políticas públicas concebidas com instrumentos claros e eficazes no seu objetivo; um cara reconhecido pelos eleitores que o levaram à Presidência da República e depois o reconduziram ao mesmo cargo; e que depois de oito anos de mandato, ele ainda elegeu “uma poste” como sucessora. Como que esse cara permite que um bando de corruptos, ratos profissionais, invada as licitações públicas, o erário e as reservas nacionais; assalte as empresas estatais e saque dessas, moeda-a-moeda, o seu patrimônio material e moral, como aconteceu com a Petrobrás e várias outras, menos expressivas e menos estratégicas? Não sabia? Alzaimou?
Querido: você perdeu o bonde. Junte o que ainda lhe sobra, se é que lhe sobra, e ajude a pensar um outro Brasil. Senão o Moro, (que realmente errou em mandar conduzi-lo coercitivamente, em invadir sua casa e a de seus filhos), vai pisar no rabo da jararaca e ela vai morder sua bunda.
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