O Brasil parece estar revivendo Pirandello em seu “Seis Personagens à Procura de um Autor”. O país enfrenta um horizonte povoado de incertezas e interrogações. Mergulhado em profunda crise de múltiplas faces, tem dificuldades de se libertar dos fantasmas do passado e olhar para a frente, descortinando seu futuro.
Estou completando 36 anos de vida pública. Metade no Executivo, a outra em mandatos parlamentares e na militância política. Fui eleito muito cedo, aos 22 anos, vereador em Juiz de Fora, em 1982. Sou da geração que lutou e vivenciou todo o processo de redemocratização a partir da segunda metade dos anos 70.
Nesse longo período, jamais assisti a uma crise tão complexa e desafiadora como a atual. Na verdade, vivemos a superposição de cinco crises, com suas dinâmicas próprias, que se retroalimentam.
A primeira, aquela que mais afeta o cidadão brasileiro, a econômica. A maior recessão de nossa história, com 14 milhões de desempregados, crescimento negativo, falência de empresas, endividamento das famílias, estrangulamento fiscal inédito, crise federativa, queda dos investimentos. A atual retomada terá fôlego curto se não forem feitas as mudanças e reformas necessárias.
A segunda, a política. O afastamento de uma presidente da República e duas denúncias contra o atual presidente, com suas cicatrizes e com feridas ainda abertas. A instabilidade foi uma nota permanente nesses tempos sombrios.
A terceira, ética e moral. A Lava Jato e congêneres revelaram um submundo marcado por um patamar inacreditável de corrupção em escala industrial, institucionalizada e endêmica. Isso abalou profundamente a confiança no sistema político, já frágil, dentro da sociedade brasileira, gerando um perigoso abismo, o que pode ser fatal para nossa democracia.
A quarta, institucional. A exposição negativa do Supremo Tribunal Federal, os conflitos entre os Poderes, as polarizações entre Ministério Público, Congresso, Executivo e Judiciário alimentaram uma insegurança que não faz bem à necessária estabilidade para que o país construa seu futuro.
Por último, a cultural. A combinação das várias crises simultâneas deu margem ao nascimento de um caldo de cultura marcado por uma mescla de radicalismo, sectarismo, intolerância, desconfiança, falta de canais de diálogo e desânimo. Vamos combinar que não é o ambiente ideal para uma escolha serena e madura para o futuro.
Estamos a seis meses das eleições presidenciais. A questão seminal é: de que o Brasil precisa? Mais radicalismo, mais instabilidade, mais intolerância? Ou, ao contrário, serenidade, experiência comprovada, competência testada, capacidade de diálogo e visão de futuro?
O bom da democracia é que nas eleições o poder é devolvido a seus verdadeiros donos, os cidadãos eleitores. Está em nossas mãos pavimentar os caminhos para a construção do futuro do país. Oxalá façamos as escolhas certas. Não é hora de apagar o incêndio com gasolina.
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