Em 25 de fevereiro de 1892, o periódico feminino inglês Lady introduziu em suas páginas a coluna chamada Dress on London Stage, ou algo como “Roupas nos Palcos de Londres”. A coluna dedicava-se ao que atualmente presenciamos nos nossos próprios palcos, ou melhor, modernizando o canal de divulgação, nas telas do cinema: a colaboração entre os árbitros da moda e o figurino. O exemplo mais recente, que há quase um ano vem sendo acompanhado constantemente pela mídia, é o filme de Baz Luhrmann, uma refilmagem do texto clássico de F.Scott Fitzgerald, “O Grande Gatsby”, que estreou em maio nos Estados Unidos e no ultimo dia 7 em Belo Horizonte.
Se no fim do século XIX as atrizes dos palcos londrinos e franceses contavam com a colaboração dos mais famosos costureiros – Worth, Callout Soeurs, Lucille, Paquin - este trabalho não se estendia a todo o conjunto das roupas da obra teatral. Apenas as estrelas, as divas da época, tinham o privilégio de exibir a sua silhueta vestida pelos grandes nomes da moda, que as usavam como vitrines de seu estilo pessoal, manequins vivas e difusoras das novidades criadas em suas respectivas maisons.
A colaboração com as artes performáticas, porém, não ficou restrita aos tempos do início da moda: Chanel, Givenchy, Yves Saint Laurent, Jean Paul Gaultier são nomes que uniram seu prestígio e fama à indústria cinematográfica. A última empreitada ficou a cargo da estilista Miuccia Prada ao produzir quarenta croquis para “O Grande Gatsby”, cujas imagens foram incansavelmente replicadas pela mídia. Tanto que já somos íntimos do vestido candelabro usado na festa gatsbiniana por Daisy Buchanan, personagem da atriz Carey Mulligan. Temos até a impressão de que se abrirmos a porta do nosso guarda-roupa, o encontraremos, com todo o brilho de suas exageradas gotas de cristal, à nossa espera para a próxima it-party. Esse mesmo frisson que as roupas de Prada e as jóias da Tiffany’s – especialmente criadas para o filme – produziram nos segmentos mais fashionistas foi também sentido pela efervescente e móvel sociedade européia na virada para o século XX. Os jornais femininos publicavam desenhos detalhados das roupas usadas pelas famosas estrelas em suas peças teatrais.
Dos 40 croquis de Prada, a exigente Daisy Buchanan usou apenas o vestido candelabro. Os outros foram distribuídos pelos corpos dos inúmeros foliões frequentadores das festas de Gatsby, e não são fáceis de serem localizados no filme. E, se Prada e Tiffany’s foram as marcas reconhecidas do público pelo figurino feminino, como em uma paródia do destino, o figurino masculino, de Gatsby e seus pares, ficou a cargo da bicentenária marca americana Brooks Brothers. Embora a marca seja citada na obra de Fitzgerald, sua origem é tão modesta quanto a de Gatsby, pois foi criada em 1818 como um empório popular de roupas prontas, ou seja, vendedora do tipo de roupas esnobadas pela elite americana e seus afiliados.
Embora o prévio e justo sucesso do figurino, “O Grande Gatsby” é um filme que vale a pena ver pelo olhar interpretativo, contemporâneo, da afamada e louca sociedade da década de 20. Ah, mas o que eu mais gostei? Da cena inicial de Daisy Buchanan envolta em um rodado e etéreo vestido rosa claro, uma silhueta muito pouco vista em filmes que retratam a época, mas que foi muito popular entre as mulheres do tipo Daisy: o francês robe de style, silhueta romântica e feminina, criado e eternizado por Jeanne Lanvin.
Mariana Rodrigues é mestre em moda, pesquisadora de história da moda,e docente no Centro Universitário UNA. Ela divide este espaço com Jack Bianchi, Lobo Pasolini, Ludmila Azevedo e Silvana Holszmeister.
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