Até quando os políticos envolvidos na Lava Jato conseguirão sustentar que são inocentes, não sabem de nada, não se envolveram em nada de errado em suas vidas públicas? São apenas vítimas de pessoas mal-intencionadas que desejam destruir suas reputações, num desmedido jogo de poder, são todos os mais honestos do mundo, e nada há de prova contra eles.
Esse tipo de comportamento traz à lembrança uma velha anedota política – até a palavra é antiga – envolvendo corruptos em palanque. Acusado de desviar recursos públicos, um velho político, em comício, jurava, aos prantos, honestidade, e garantia que nos bolsos de sua calça jamais entrara dinheiro roubado. Ao que o povo, diante do palanque, começou a gritar, em coro: “Calça nova, calça nova...” Pode ser velha, mas é uma anedota que se aplica perfeitamente aos dias de hoje.
Políticos e seus apadrinhados devem vestir uma calça nova por dia. Alguns deles, pegos com a boca na botija, chegam a afrontar a inteligência da sociedade, afirmando que delatores inventam coisas apenas para se livrarem da cadeia. Repetem os delatores, segundo eles, o que interessa ao Ministério Público para construir teorias acusatórias contra altruístas que se dedicam às causas do povo, muitas vezes com o sacrifício de seus interesses pessoais e de suas famílias, e que estão sendo agora massacrados pela incompreensão humana.
Acusam uma conspiração do mundo contra eles e pedem provas. Provas? Mas que provas. Recibos? Assim, por exemplo: recebi do senhor fulano a importância tal a título de propina? É isso que os senhores sugerem? Com certeza, isso não aparecerá. Difícil uma prova em crimes de corrupção. Evidências irrefutáveis, porém, há, e aos montes. Os erros cometidos por Fernando Collor não estão sendo repetidos, com certeza.
A turma ficou mais profissional, muito embora a certeza da impunidade possa ter levado alguns a baixar a guarda. De outro lado, o Ministério Público, a polícia e o Judiciário ficaram mais espertos. É bom lembrar também que os delatores estão assumindo publicamente suas condições de corruptores. E os corruptores não existem sem os corruptos. Logo...
Além de mudarem a cantilena das negativas, sugere-se aos que já foram pegos, ou que estarão nas próximas listas, que tomem cuidado com a desculpa do caixa 2. Essa prática, por mais corriqueira e institucionalizada que seja na política nacional, é também irregular, imoral, criminosa. Pode parecer inocente, coisa de menino levado que recebe um dinheirinho escondido. Mas ela não é só isso. O caixa 2 é irrigado por dinheiro sujo, que é amealhado por meio de um ato criminoso, como um superfaturamento, passa por uma etapa de crime fiscal, pois sai do caixa do corruptor por meio de manobras contáveis, e se transforma numa poderosa corrente, que vai prender o “rabo político” de quem a aceitou. Ou alguém imagina que exista almoço de graça na política brasileira?
Com quem está a verdade: delatores ou delatados?
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