Ver para crer
Os políticos próximos ao PSDB e a imprensa especializada estão à espera de uma espécie de renúncia de Aécio Neves, que desistiria de disputar qualquer cargo atendendo aos conselhos de assessores e às pressões do partido. A expectativa em torno da saída de cena do senador é tão grande que muitos deputados da oposição mineira já dão como líquida e certa a ausência dele das urnas. Mas, ouviu-se gente falando por Aécio; ele próprio não disse nada, pelo menos até ontem. Na realidade, o gesto esperado do senador não é fácil. Está-se exigindo dele um sacrifício muito maior que o pedido a Anastasia, recém-lançado a contragosto ao governo de Minas.
Sinais trocados
Os sinais emitidos por Aécio nos últimos dias são ambíguos. Ele não foi à reunião do PSDB na terça-feira para referendar a candidatura presidencial de Alckmin, numa ausência vista por muitos como o início do seu afastamento do partido e da vida pública. Todavia, no mesmo dia, o senador mandou um recado diferente: uma nota do diretório mineiro, controlado por aecistas, disse que ele “vai ocupar com legitimidade a posição que escolher” na chapa de Anastasia. Na semana anterior o PSDB-MG havia gasto R$ 30 mil com jatinho para Aécio cumprir agenda de candidato em Contagem. Pelo visto, a renúncia é uma questão fechada para os outros, e não para o renunciável.
Perda total
No caso de Aécio, a renúncia significa a perda de 100%. Com Anastasia no páreo do governo, o PT tentará polarizar a eleição com o PSDB, seu maior rival no Estado, transformando a disputa numa escolha entre Lula e Aécio, com Pimentel associado ao ex-presidente e Anastasia ao senador. De todo jeito, Aécio estará na campanha como peça-chave na propaganda petista. Vai levar pancada sem parar. E quem irá defendê-lo? O dilema do senador é que, renunciando à disputa, ele perde acesso à propaganda partidária e à tribuna para narrar sua versão dos fatos. E mais: ele sai da vida pública com a imagem destruída. Por outro lado, a candidatura lhe abriria uma janela de marketing para reverter ao menos em parte o desgaste político e pessoal.
Acervo de imagem
Lula poderia ter se limitado no Rio Grande Sul ao item principal da agenda: a visita ao túmulo de Vargas. Ele escolheu percorrer área no Estado onde sabidamente encontraria a maior resistência. Contava com isso, aliás. E os antilulistas gaúchos não decepcionaram, fornecendo imagens fortíssimas de rejeição e hostilidade para embasar a narrativa do ex-presidente de que é perseguido pelas elites – no caso com apoio de cavalos e tratores. É incrível como Lula provoca a ira de direitistas, e estes caem no jogo dele.
Foto de milhões
Uma das imagens que a direita gaúcha deu a Lula registra um homem que aparenta ser produtor rural batendo com um chicote nas costas de outro mais humilde. Nas mãos de um bom marqueteiro, e conectada à reforma trabalhista, essa foto pode render milhões de votos.
Inimigos do campo
A caravana também rende desgastes para Lula e o PT: está servindo para colocar o candidato e o partido em confronto talvez incontornável com o setor mais próspero no país. Ontem, uma nota de repúdio dos ruralistas gaúchos às declarações “ofensivas” do ex-presidente ganhou o apoio da Faemg em Minas e, ao que parece, de outras entidades similares.
Dante Nascimento, Alberto Salum e Eduardo Nascimento
Um a menos
Um dos deputados listados na coluna como ‘anastasistas’, Renato Andrade, do PP, rejeitou o adjetivo e disse que vai seguir a orientação do seu partido, que está de trato com Rodrigo Pacheco. Andrade ligou para Pacheco no mesmo dia em que saiu a nota, reafirmando o seu apoio ao candidato.
Pauta surpresa
Entidades ambientalistas podem ter uma surpresa nesta sexta-feira. Está na pauta da reunião do Copam o pedido de licença de operação do alteamento da barragem de Itabiruçu, que recolhe os resíduos e rejeitos de minério do Complexo Itabira da Vale. Não se sabe de audiência ou discussão pública sobre isso. A barragem, uma das maiores do mundo, terá mais 18 metros.