Eu não estava no Brasil nas jornadas de junho de 2013. Em minha chegada, não acreditei na imensa pilha de jornais, com textos e fotos sobre as manifestações populares. Vi daí por diante algumas concentrações cheias de black blocs, o cerco ao apartamento de Cabral no Rio de Janeiro, muitas greves, algumas estranhas porque as lideranças não conseguiam falar por toda a base e acordos eram fechados sem que o movimento terminasse de todo.
Vou, como qualquer um que me leia, sofrendo a agonia de 2015...
As manifestações de rua vão se tornando raras. Um acampamento pequeno aqui, em frente ao Congresso, em Brasília, caminhoneiros ameaçando parar o país, a chuva de dólares com a foto de Cunha, atirada isoladamente por um único manifestante. Vaias (poucas), e tome seguranças! E terríveis – estas, sim –, embora pequenas, terríveis, repito, demonstrações de fascismo. Ou reclamos de retorno dos militares à cena política, como se com estes o Brasil tivesse sido um país-maravilha! Só mesmo os mais velhos, como eu, para se lembrarem, ou alguns militares que sabem muito bem em que podem dar essas bravatas.
Bravateiros tonitruantes só mesmo Lula e Cunha, cada um contando suas mentiras ou suas supostas qualidades que os tornariam quase imortais. A estes lembro a maldição dos deuses gregos contra os que se julgam maiores que o destino.
Incomoda-me o silêncio das ruas. Nenhum protesto maior contra a violência que campeia nas cidades e no campo. Nada contra o engodo do erro no pagamento do FGTS das domésticas, como se os patrões – a não ser os que têm alguém para fazer por eles – pudessem gastar aquele tempo num computador, tentando entender o que queriam os que planejaram a mágica de cadastrar e fazer o primeiro pagamento, tudo ao mesmo tempo e de prazo marcado para os contribuintes.
Nos corredores ou nas ruas, ouço, à boca pequena, uma insistente pergunta: “Ela vai sair?”. Nem preciso perguntar quem é ela. Não, ninguém sabe se quer que ela saia porque, sem ela, ou vem Michel Temer, ou Eduardo Cunha, ou Renan Calheiros, ou Lewandowski. Ou, se houver nova eleição, quem serão os candidatos? Lula, Marina, Aécio, ou as variantes do mesmo programa do PSDB, ou quem afinal de contas?! Começo a pensar que o parlamentarismo aqui seria melhor.
Cunha me dá arrepios de medo: um cara sem nenhum caráter – que me perdoem Macunaíma e Mário de Andrade por essa blasfêmia. Agora, fez aplicações no Zaire, que acabou, como nação, em 1997. Vamos ver as datas de suas aplicações nas tais contas na Suíça.
Lula? Nele não voto mais sem uma profunda autocrítica que não deixe de incluir o que fez pelos bancos (Emenda 40/2003) e contra os pobres. Claro que ele não fará isso. E, se o fizer, será talvez outra jogada de marketing.
Todos aqui se entreolham e se olham sem dizer palavra. Ninguém arrisca um palpite, um mero palpite. Que dirá uma opinião. Vou lendo e relendo tudo.
Viramos uma nação de zumbis. Que Zumbi, o autêntico, me perdoe!
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