O título da coluna de hoje é também o título de uma música que fala da confusão que se instalou na casa de Noca: “todo mundo brincando no forró animado/ quando um cabra armado entrou com Zé minhoca/ na casa de Noca baixando o cajado/ e o pau comeu...”. A música é conhecida e tocada nos forrós do interior, em recintos de chão de terra batida e música de sanfona pé de bode, de oito baixos, nos quais, ao raiar do sol, o pau começa a comer...
Um desses dias, no frio da madrugada, desrebuçado acordei para puxar a coberta e escutei com fundo musical, já que durmo com o rádio ligado, uma notícia que dizia da abertura de investigação pela Procuradoria da República do Distrito Federal sobre o envolvimento do ex-Luiz com suposto tráfego de influência internacional no Brasil, coisa que todo mundo está cansado de saber. Despertado, pensei: Ô lelê! Acharam a ponta do novelo, agora é só desenrolar o carretel e botar a mão no lobista chefe das empreiteiras junto ao BNDES. Aqui está o x da questão.
Não sei dos outros, mas eu sempre tive dificuldades de entender as coisas fáceis demais, como imaginar um país sobrevivendo com um partido como o PT, ditando normas de conduta; com uma presidenta – ou o que seja –, inteiramente avoada, falando palavrões e elogiando mandiocas e, por último, falando de processos tecnológicos como seja a conquista do fogo... Um presidente do Congresso Nacional processado por corrupção, um presidente da Câmara Federal esperneando para provar que não é corrupto (e eu, torcendo para o cara não ser, mesmo sabendo que “andorinha que dorme com morcego voa de cabeça para baixo”); um ex-presidente analfabeto, mas esperto que nem pulga de pensão, que arrota garganta e diz que ninguém o derrubará, como se ele estivesse em algum lugar nas alturas; 39 ministérios e seus ministros, mais de 700 congressistas, dos quais um terço está sendo processado ou sob suspeita; embaixadas espalhadas pelo mundo, em lugares que até Deus duvida que existam, como Barein, Butão, Djibuti, Tuvalu, Vanatu etc.
O ex-Luiz andou por esse mundo todo, à nossa custa, atrás de votos para ser membro efetivo da ONU, e procurando um tal de Prêmio Nobel da Paz... Às vezes, isso me lembra Nerino, um coitado doido que vivia em União do Vigia, hoje o próspero município de Rubim, onde passei minha primeira infância, no caleidoscópico Vale do Jequitinhonha. O Nerino sungava a calça com a mão no bolso e dizia sempre que encontrava alguém: “não vai lá não lá adiante tem ladeira...”
As ladeiras existem e existirão sempre. Resta-nos a nós, cidadãos que pagamos impostos, a certeza de que viver em sociedade é ter compromissos de fraternidade e solidariedade com nossos coirmãos, para que, ao final, essa vida tenha outro sentido que não seja somente a ganância do ter e essa desonestidade com que estamos convivendo no Brasil, que não é nem poderá existir como a tolerância da casa de Noca.
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