Parafraseando o poeta, eu diria que, apesar de tudo, amanhã de manhã já será outro dia... Outro ano, melhor dizendo. O tempo está passando depressa, como se fosse um caminheiro andante seguindo num rumo certo, quem sabe, o rumo do sertão, à procura daquela cruz abandonada que o poeta maior aconselhou deixar em paz na solidão...
Divaguei, mas é sempre assim quando me deparo com o tempo. Quando me deparo... E, por acaso, pode-se viver fora dele? Nem morto... O tempo é uno, não passa, nós é que passamos por ele, repito. E, se ele passasse, para onde iria? Para a eternidade? Sim, mas onde fica isso? Isso é assunto para filósofos da categoria de um ex-Luiz, Rosemére, Erenice, Palocci, Genoino, Youssef “et caterva”...
Gosto do diálogo interior, o que, às vezes, me coloca em conflito, mas faz que eu nunca esteja sozinho, pois estou sempre conversando comigo. Quando comecei falando em tempo seco da vida, não pensei na falta de chuvas por que passamos. Até não compreendo a preocupação das autoridades públicas com uma possível falta d’água num futuro que nunca será de alguém. O mundo é água. Eu e você também. Tudo é água, inclusive a vida... Os políticos em geral e, em particular, os atuais governos criam ameaças para disfarçar sua incompetência e amedrontar o cidadão – esta a pior forma de dominação: pelo medo. O mundo pode até acabar por excesso de água – como, aliás, dizem que acabou, quando da Arca de Noé –, nunca por falta. Agora, a preocupação é com o sistema Cantareira, em São Paulo. De quem a culpa? Dos políticos, claro, não da natureza. Esquecem eles, uns mais que os outros, que a variação do clima é normal. Se fizermos um estudo sobre a média anual de precipitação, constataremos que em um ano chove muito e em outro chove menos, mas, na média, fica tudo igual. A população é que aumenta em ritmo geométrico e, como consequência, o consumo aumenta. Políticos, em geral, têm visão curta; estadistas é que enxergam distâncias, mas essa classe de gente é cada vez mais escassa.
Na vida tudo passa e tudo passará; nada fica e nada ficará, diz um cantante... Nós, brasileiros, já fomos um povo melhor e, há muito, sofremos dos males das multidões. Já somos um povão de muito mais de 200 milhões de almas. Também é verdade que são muitos os desalmados. Parece que a cada dia mais enfraquece nosso sentimento de solidariedade e nosso orgulho de ser aquele povo humilde de que fala Chico Buarque, com aquela tristeza no peito, feito despeito de não ter como lutar e que dá até vontade de chorar...
Neste último dia do ano, não vou lembrar as desgraças que tanto nos magoam. Abstraio e fico pensando como tudo poderia ter sido diferente. Enquanto isso, desejo felicidades para todos nós, ainda que sejam petralhas... Eu ficarei ouvindo a sanfona pé de bode, zoando em minha saudade, como diz o poeta no sertão.
“Ex-corde”, até mais ver...
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