O mercado de transferências de jogadores rendeu a 17 grandes times brasileiros a bagatela de R$ 3,8 bilhões só nos últimos cinco anos. O Brasil vendeu, no período, 190 atletas para 92 equipes de 24 países diferentes. Mesmo com essa bolada, a pergunta é: estamos vendendo bem, na idade e no momento certos? Em seu trabalho final de conclusão do curso de gestão de futebol da CBF, o consultor de futebol e mercado João Victor Alves Hygino levantou informações e cruzou dados em busca de respostas. A conclusão é que, caso alguns clubes continuem dando pouco espaço a seus jovens valores, suas vendas se resumirão a tendências passageiras e a picos de mercado. Para Hygino, é importante que os clubes implantem uma filosofia de aproveitamento constante de atletas até 23 anos, para ter retornos técnicos e financeiros. A partir do momento em que o mercado internacional identificar que os jovens brasileiros estão ganhando cada vez mais e tendo sequência de jogo, haverá aquecimento natural e um assédio maior em cima dos talentos.
Fatia
Dos R$ 3,8 bilhões movimentados no período, 64,6%, ou seja, R$ 2,4 bilhões são referentes a atletas até 23 anos. Em termos de quantidade, o número de atletas sub-23 negociados é abaixo da metade (45,7%, ou 87 das 190). A questão é que, das 20 maiores transferências – que somam R$ 1,6 bilhão –, apenas três se referem a atletas com mais de 23 anos: Paulinho, Everton Ribeiro e Leandro Damião, esse último, do Inter para o Santos, por meio de um parceiro.
Em formação
A concentração financeira em poucos atletas não tem só o talento brasileiro como explicação, mas, sim, o nível técnico, tático e de entendimento de jogo que os jogadores atingiram com idade tão baixa. A média de idade das 20 maiores vendas é 21 anos, faixa etária que mais desperta interesse nos grandes centros, pois estão em formação. Existem tendências claras e perfis bem definidos do que os grandes clubes buscam. Transações vultosas ainda são exceções.
Vendedores
O Cruzeiro é o clube brasileiro que mais vendeu jogadores com menos de 23 anos. Foram dez no período. No total, a diretoria celeste negociou 20 atletas em cinco anos, número inferior apenas a São Paulo (24) e Corinthians (23). O Atlético fez a negociação de 11 jogadores, sendo apenas três com idade sub-23. Se analisarmos cada caso, veremos que, dos 17 clubes, apenas cinco têm entre 60% e 100% de suas vendas concentradas em atletas de até 23 anos.
Aproveitamento
A maioria dos clubes do Brasil ainda não entendeu a dinâmica do mercado. Para Hygino, não existe um momento certo para vender. O tempo restante de contrato, o momento atual e a necessidade do clube são variáveis determinantes. Mas o mais importante é produzir. Nas categorias de base do Brasil, existe uma infinidade de jogadores sendo lapidados. Os clubes formam, mas aproveitam o que formaram? É a reflexão que os dirigentes brasileiros precisam fazer.
Na prática
Se os atletas sub-23 são vitrines, como eles têm sido, de fato, aproveitados? No levantamento da participação de garotos no Brasileiro deste ano, times com investimento alto na base deram pouco espaço a suas crias: Flamengo (7), Palmeiras (8), Cruzeiro (11), Atlético (15) ficaram na parte de baixo da lista. O Grêmio utilizou 26, e o Fluminense, 21. O tricolor carioca, aliás, após um 2016 com atletas rodados, apostou em jovens em 2017.
Na regra
Hygino sugere, em seu trabalho, um acordo entre CBF, federações e clubes para incentivar a inserção, de fato, dos atletas até 23 anos nos times principais, talvez com obrigatoriedade de dois atletas até 23 anos, dentre os 11 iniciais de cada equipe no Brasileiro. Em segundas e terceiras divisões estaduais, a regra costuma ser aplicada, apesar de não terem a mesma visibilidade. A criação do Brasileiro de Aspirantes, neste ano, tem alguma.