A opção de ter Neymar nas Olimpíadas em vez de na Copa América e a convocação de quase todo o time olímpico para ser reserva da seleção principal mostram que a prioridade da CBF e de Dunga é a tão desejada medalha de ouro. Por outro lado, seria importante aproveitar a Copa América para melhorar o time, já que o Brasil está em sexto lugar nas Eliminatórias, hoje fora da Copa, e vai enfrentar, depois da Olimpíada, Equador e Colômbia, que estão à frente.
Amigos e admiradores de Dunga dizem que os jogadores olímpicos vão ganhar experiência na Copa América e que a intenção do técnico é também fazer uma profunda renovação no time principal. É óbvio que ele não tem essa intenção. A equipe titular é a que tem jogado as Eliminatórias, e os atletas com menos de 23 anos terão pouquíssima chance de atuar várias partidas.
Outros argumentam que será uma ótima oportunidade para a seleção aprender a jogar sem Neymar. É o contrário. A Seleção precisa aprender a jogar com ele. Como o Brasil possui dois bons atacantes pelos lados (Douglas Costa e Willian) e não tem um bom centroavante, Dunga tem escalado Neymar pelo centro, mais adiantado, onde não fica à vontade. O craque deveria ter preferência.
A opção mais lógica seria colocar Neymar da esquerda para o centro, como no Barcelona. Douglas Costa e Willian disputariam a posição pela direita. Outra alternativa seria jogar com Douglas Costa e Willian pelos lados e Neymar mais pelo centro, próximo ao centroavante. Nessa formação, Douglas Costa e Willian, quando o time perdesse a bola, teriam de voltar para marcar ao lado dos volantes.
Todos os jogadores com idade olímpica são bons, destaques nas principais equipes brasileiras ou em times médios da Europa. Marquinhos e Rafinha são reservas no PSG e no Barcelona. Porém, até a Copa, algum jogador olímpico vai se tornar da seleção principal e/ou protagonista dos melhores times da Europa? É pouquíssimo provável. O Brasil forma um enorme número de bons e excelentes jogadores, mas, com exceção de Neymar, não produz foras de série, estrelas do futebol mundial.
As ausências de Thiago Silva e Marcelo são absurdas. É compreensível a escalação do ótimo lateral-esquerdo Filipe Luís, porém, seria importante ter Marcelo como opção nos momentos em que a seleção precisar de um lateral mais apoiador. Além disso, seria uma alternativa como um meia pela esquerda, em uma linha de quatro no meio-campo. Ele e Neymar fariam miséria naquele setor.
Falta à seleção um profissional competente, com uma visão diferente e menos dogmática do futebol e do comportamento humano, que possa discutir e ajudar o técnico. Dunga está cercado de uma multidão de pessoas, muitas delas bajuladores, porém, sozinho para tomar decisões técnicas e táticas.
Brasileirão. Já escutei um milhão de vezes que o Brasileirão é o mais equilibrado campeonato do mundo, o que é verdade. Deveria ter também mais qualidade. Há pouca diferença técnica entre os cinco times da Libertadores e Santos, Inter, Flamengo, Fluminense e Cruzeiro. A presença de um Leicester é praticamente impossível, já que a diferença em dinheiro do que recebem os grandes e os pequenos no Brasil é, proporcionalmente, muito maior do que na Inglaterra.
Novo técnico
Apesar dos riscos de ter um treinador estrangeiro, que não conhece o elenco e que chega após a primeira rodada do Campeonato Brasileiro, gostei da ousada contratação, pelo Cruzeiro, do técnico português Paulo Bento, que dirigiu Portugal na Copa do Mundo de 2014, no Brasil. O fato de ser um europeu, em vez de um sul-americano, como já é habitual no Brasil, é ainda mais interessante.
Os treinadores portugueses são valorizados na Europa, por serem muito estudiosos e pela razão de a mais importante escola de técnicos do mundo estar na cidade do Porto. Para ser treinador de uma equipe da Série A na Europa, é necessário ter esse curso. O oferecido pela CBF não dá condições para um técnico brasileiro trabalhar na Primeira Divisão da Europa.