Se hoje fosse colocado em votação o impeachment, a presidente Dilma estaria em apuros. O momento de mutação entre o improvável e o provável ocorreu na semana passada. Nem a oferta de ministérios, cargos e mimos ao PMDB mudou o clima.
A prova, que pode ser algo próximo de se realizar, foi o programa partidário do PMDB exibido na última quinta-feira. Num discurso único e concatenado, recitado desde a abertura por Michel Temer, passando pelas figuras de proa do partido e finalizando com ele numa pose em que lhe faltava apenas a faixa verde-amarela.
“Mudar” e a maturidade do partido para conduzir o país a novos rumos se repetiram, deixando o projeto de tomada da Presidência da República como um passo natural. Mais ainda facilitados pela onda de descontentamento de setores políticos, econômicos e sociais, referendados na overdose de impopularidade da presidente Dilma Rousseff. É isso em que acreditam e que querem os peemedebistas.
Michel Temer já percorreu as principais lideranças políticas do país e encontrou sinal verde para promover o complô, apenas com a recomendação de usar luvas de pelica.
O programa partidário serviu para mostrar a coesão do PMDB e contar quem está na empreitada. Quem deu a cara assinou o projeto, como os conjurados romanos que apunhalaram ao mesmo tempo Júlio César à luz do dia, mostrando que não era um o culpado, mas muitos os responsáveis. Depois sobrou para Brutus, filho adotivo, imortalizando o “Até tu, filho meu?”.
O sonho peemedebista de ocupar o Planalto nunca esteve tão perto de se realizar, sem usar lâminas. Nem tanto por méritos do partido, mas pelas falhas da presidente, que vem escorregando em decisões desastradas. Faltaram-lhe diretrizes e planos, acenos a metas que Lula ditou e ela não conseguiu renovar.
O PMDB unido se mostrou para o “terceiro turno”, que se vence no tapetão. Nenhuma citação aos 13 anos de convivência com o poder, como se já não fizesse parte de suas responsabilidades a situação à qual se chegou. Fim de festa e de casamento.
Um pano de fundo preto mostrou, durante todo o programa, as cores do apagão de poder, nada a mostrar e tudo a esquecer. Os holofotes mostrando as “caras lavadas” dos peemedebistas recitando um pacto de união. Nenhum ministro com cargo, ou figura alinhada com o governo Dilma apareceu na moldura. Apenas a numerosa tropa de elite pronta para a missão mais dura.
A falta de remédio para a crise política vivida por Dilma estaria na aparente omissão em segurar a Lava Jato, que devastou adversários de alguns ministros petistas, mas acabou invadindo o quintal do PMDB e de outros partidos.
Mesmo inconfessada, a razão do racha é essa, na dificuldade e no medo. Os ministros Aloizio Mercadante e Eduardo Cardozo seriam os responsáveis. As circunstâncias acabaram por gerar a união espontânea de diferentes interessados em salvar a pele. E já que Dilma não conseguiu se livrar dos ministros e das escolhas equivocadas, para o PMDB passou a ser melhor se livrar dela e, por tabela, de todos, e escalar a cadeira mais alta. Conta com um forte apoio e com a insatisfação gerada pelas medidas “levyanas”, a inflação, os juros altos e o desemprego, sem um aceno de luz no final do túnel.
Dilma se encontra vulnerável como nunca, e a conspiração segue um rito que não pareça um golpe, mas um chamamento das ruas. Precisa prestar atenção como quem passou pela ponte que caiu, e se encontra isolada.
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