Opinião

Desigualdade social e coronavírus

Favelas, desempregados e trabalhadores informais

Por Cleide Aparecida Nepomuceno
Publicado em 01 de abril de 2020 | 03:01
 
 
 
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No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde decretou que há uma pandemia no mundo causada pelo novo coronavírus chamado Sars-Cov-2, que causa a doença Covid-19. As recomendações das autoridades sanitárias, de saúde e de infectologia são acessíveis para a maioria da população e se resumem em medidas de higiene e confinamento, evitando-se aglomeração das pessoas para frear a capacidade de contágio do vírus e não sobrecarregar o sistema de saúde.

Essas recomendações, entretanto, não são simples para moradores de assentamentos informais, conhecidos também por favelas, principalmente aquelas muito adensadas, cujos imóveis são pequenos e com pouca ventilação e que não possuem saneamento básico, com o agravante de que seus habitantes trabalham, em sua grande maioria, em atividades informais, o que pode provocar a falha no plano de contenção dessa doença infectocontagiosa. Neste contexto, a pandemia do coronavírus se tornou uma oportunidade para evidenciar que a desigualdade social traz reflexos perversos para toda a sociedade e não apenas para os desafortunados que nela estão inseridos.

Estudos sugerem uma relação intrínseca entre a desigualdade de renda e a criminalidade, ou seja, quanto maior a desigualdade social, maior a violência.

O Brasil, de acordo com o índice Gini, está entre os países mais desiguais, e suas capitais mais populosas, como São Paulo, apresentam altas taxas de homicídios, índices usados para medir a violência. Esse quadro é nefasto para grande parte da sociedade: para aqueles que possuem o suficiente para viver, há o medo de assalto, roubos e furtos; e os que nada possuem também são violentamente humilhados por uma sociedade de consumo, já que não podem ter nada daquilo que é vendido como necessidade.

Especialistas estão chamando a atenção para a prevenção do coronavírus nas favelas, e o consenso é que nos locais onde o acesso à água se dá de forma irregular e que não há ao menos saneamento, o atendimento às recomendações de isolamento social e de higienização das mãos não poderá ser suficiente, aumentando consideravelmente o risco de esses locais tornarem-se um foco de contaminação, impactando o restante da sociedade.

As desigualdades sociais devem ser combatidas não apenas por altruísmo, mas pelo próprio instinto de sobrevivência. É inaceitável que seres humanos não possam ter ao menos um local digno de moradia servido de água, luz e saneamento básico, condições mínimas para se viver saudavelmente. No momento, além de injusta, essa situação se mostra contraproducente para se tentar conter um vírus com alta capacidade de transmissão.

Além das condições de higiene, os moradores de favelas que vivem no mercado informal terão sua renda comprometida com o rápido desaquecimento da economia, paralisação de vários setores e aumento de desemprego, especialmente no comércio. Há várias iniciativas para se pensar no estabelecimento de uma renda mínima que estão na contramão das políticas neoliberais recentemente implantadas e em expansão.

O momento deve ser de cuidado, mas também de reflexão sobre a sociedade que queremos. O estabelecimento de políticas públicas como a renda mínima para desempregados e trabalhadores informais é somente uma das primeiras medidas podem ser tomadas. Outras devem ser viabilizadas para alcançar os objetivos preconizados em nossa Constituição Federal – de uma sociedade justa e solidária, na qual a diminuição da pobreza é uma meta.

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