Quando menina, eu tinha as pernas finas, dentões pra fora, centímetros a menos e uma timidez tremenda. Chegou a adolescência, as pernas continuaram finas, assim como os centímetros a menos. Os dentes se vestiram de prata, num aparelho horroroso que me impedia de comer mangas e salgadinhos em festa.
A timidez, talvez pelo fato de conviver com uma turma grande de amigos, foi me deixando aos poucos. E me tornei uma garota falante, sorridente, constantemente apaixonada, platonicamente falando, claro! Além de atleticana enlouquecida e caçadora de encrencas no Mineirão.
Com 15 anos, como a maioria dos adolescentes da época, comecei a fumar escondido. Até que um dia, após uma aula de balé, a professora, ao me ver com o Hollywood na boca, gritou:
– Geeeente! A Laura fuma!!! – E virando-se para mim: – Menina, quantos anos você tem?
E eu, assustada com a reação da plateia, falei baixinho:
– Quinze.
– Ó! Pensei que você tivesse nove!
Pronto. Mais uma a me chamar de “pirralha”, pensei, arrasada. E eu achando que o cigarro na boca me deixaria mais mulher. Magrelinha e “mignon”, não tinha como escapar. Era pirralha mesmo! Por mais batom, salto alto e algodão no sutiã que eu colocasse.
Nos filmes cuja censura era 14 anos, eu era a primeira a ser barrada, enquanto todas as minhas amigas entravam sem ter de mostrar documentos. Muitas delas, mais novas que eu. Com 18, a mesma coisa.
Minha mãe tentava me consolar:
– Calma, filha! Quando você for mais velha, vai agradecer por isso, por parecer mais nova.
Mas eu queria era naquela hora. Ser bonitona, altona, gostosona. E não a Laurinha bonitinha, pequenininha, meiguinha, e uma série de “inhas” que me acompanhariam por toda a adolescência.
Não engordava de jeito nenhum. No lugar de minissaias, cheguei ao ponto de usar meias de lã sob a calça jeans, para que as pernas parecessem mais grossas.
Até que um dia, enfim, passei a me aceitar do jeito que era. A valorizar o que tinha de melhor. Meus olhos puxadinhos e expressivos, meu corpo pequeno, mas bem-formado, proporcional. Meu constante bom humor, que fazia as pessoas rirem e gostarem da minha companhia.
Do mesmo jeito que tem gente que nos leva pra cima, outras nos jogam pra baixo. Dizer que sofri bullying? Acredito que sim. Aliás, naquele tempo, o que as pessoas julgavam como grandes ou pequenos defeitos nos outros iam logo espalhar num “megafone”. Tipo a musiquinha que uma garota fez para mim, mais ou menos assim: “A Laura é uma pirralha e magricela, olha as pernas dela!”.
E lembro-me do amigo retraído, excessivamente tímido, que os colegas, sem conseguir puxar conversa, logo apelidaram de “ameba”. Outro, do antigo científico, com tendência à homossexualidade, foi quase crucificado por alguns adolescentes, que se viam no direito de humilhá-lo perante todos.
Nunca entendi esse tipo de comportamento, de gente que parece ter pedra na cabeça, para não dizer outra coisa, tamanha a falta de sensibilidade. Afinal, não se brinca com sentimentos. Cada um tem seus problemas, e ninguém tem o direito de perseguir ou criar situações que provoquem vergonha, constrangimentos ou desconforto a alguém. Muito menos em público.
Outro dia, pegaram a esposa do Macron como alvo. Ela pode não ser um modelo de beldade, mas, com certeza, deve ter uma cabeça ótima. Além de inteligente e culta, possivelmente tem atributos como senso de humor e carisma, por exemplo. E se ela não tivesse os seus encantos, não estaria hoje no papel cobiçado por tantas mulheres na França e no mundo. E assim é a vida. As pessoas precisam lembrar que os corpos bonitos não serão bonitos para sempre, mas as almas bonitas, sim.