MÁRCIO COIMBRA

Antropofagia partidária

Paira no mundo político a incerteza da permanência do Presidente da República no partido, uma situação que, ao gerar conflitos internos, mexe com a unidade em torno da base governista


Publicado em 14 de outubro de 2019 | 07:32
 
 
 
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O imbróglio político da semana girou em torno dos conflitos internos do PSL, principal partido da base governista, sigla usada por Bolsonaro para chegar ao Palácio do Planalto na corrida presidencial de 2018. Paira no mundo político a incerteza da permanência do Presidente da República no partido, uma situação que, ao gerar conflitos internos, mexe com a unidade em torno da base governista.

Fundado em 1994 com base nos princípios do social liberalismo, o PSL jamais alçou voos mais altos. A história começou a mudar com as eleições de 2018, quando Bolsonaro buscava uma sigla para disputar as eleições. Ao acertar-se com o PSL, encontrou um partido disposto a mover-se em sua direção com vistas a eleger um número robusto de representantes e mudar de lugar na política nacional. 

Esta guinada bloqueou um movimento de renovação interna. Um grupo de jovens, identificados com a pauta liberal, havia fundado o Livres, uma corrente que aos poucos mudava os rumos do partido. Ao se opor a chegada de Bolsonaro, a sigla rachou e a parcela identificada com a pauta liberal partiu, uma vez que não enxergava convergência ideológica com o Bolsonarismo. 

O PSL se tornou assim o destino de todos aqueles candidatos que enxergaram em Bolsonaro alguém capaz de impulsionar os votos também no pleito proporcional. A estratégia se provou correta, pois enquanto Bolsonaro passava para o segundo turno, um grupo enorme de candidatos, na sua maioria desconhecidos e novatos na política, se elegia para a Câmara Federal, formando a segunda maior bancada.

Este fenômeno é resultado do sentimento de renovação política provocada pela dinâmica eleitoral, que fecha um ciclo de três décadas iniciado com a eleição de Tancredo Neves e a Nova República. Ao ajudar a eleger uma nova safra de políticos em um novo partido, Bolsonaro poderia começar a liderar um movimento profundo de mudança. 

Entretanto, o PSL, que nasce no social liberalismo e se movimenta para uma espécie de conservadorismo liberal bolsonarista, ainda não encontrou identidade. Ao eleger em 2018 um grupo tão heterogêneo de parlamentares, encontrou dificuldades de consolidar-se como força política. Em meio a blogueiros, ativistas de redes sociais, militares, policiais, empresários e até atores, falta um fio condutor ideológico que forneça robustez a um projeto que hoje ainda está distante do conservadorismo.

Antes de chegar ao PSL, Bolsonaro já passou por oito partidos. Logo, não será surpresa se deixar sua agremiação atual e buscar um novo rumo, mas por trás desta disputa também existe a briga por um robusto fundo eleitoral e partidário, conquistado pelos votos puxados por Bolsonaro, mas dentro da agremiação de Luciano Bivar. São R$ 70 milhões de Fundo Partidário e R$ 200 milhões de Fundo Eleitoral. Para além das ideologias, esta é a disputa real de uma guerra política que pode abalar a base do governo no Congresso Nacional.

 

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