MÁRCIO COIMBRA

Decepção política

Votei em Bolsonaro certo de que, na Presidência, ele poderia avançar uma agenda liberal. Havia um audacioso plano de reformas e privatizações, além de nomes que defendiam essa mudança essencial para jogar nosso país em um processo vigoroso de progresso


Publicado em 14 de abril de 2021 | 06:00
 
 
 
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Assim como milhões de brasileiros, pessoalmente sonhava com uma nova política depois dos anos petistas de corrupção. Os exemplos incluíram o mensalão, que gerou distorções em nossa democracia, passando pelo petrolão, que originou a operação Lava Jato. O resultado foi o desejo de mudança que impulsionou a candidatura de Bolsonaro, em quem 57 milhões de brasileiros despejaram seus votos, inclusive este colunista.

Votei em Bolsonaro certo de que, na Presidência, ele poderia avançar uma agenda liberal. Havia um audacioso plano de reformas e privatizações, além de nomes que defendiam essa mudança essencial para jogar nosso país em um processo vigoroso de progresso. Já vínhamos de um governo fraco, porém reformista, que deixava um legado que poderia ser aproveitado. Sabíamos que os melhores exemplos de crescimento e melhora de vida ao redor do mundo vinham de países que haviam adotados essas medidas.

Em pouco tempo, entretanto, vimos que os planos foram ficando pelo caminho e que o presidente não possuía o desejo, tampouco a convicção necessária para encampar essas mudanças. Sem uma liderança forte e articulada no Congresso Nacional, as reformas se perderam em meio a jogos de poder de uma bancada e um presidente mais voltados a uma agenda de costumes do que reformar as arcaicas estruturas de um país atrasado.

Para cada um dos grupos que apoiaram Bolsonaro, a decepção veio em um momento diferente. Para os lava-jatistas foi a saída de Moro e a certeza de que Bolsonaro usava a Presidência para se blindar e proteger, jamais para impulsionar uma agenda anticorrupção. Para os antipetistas, o governo desmoronou com as indicações de Augusto Aras para a PGR e depois de Kassio Nunes Marques para o STF. Os chamados “conservadores tradicionais” assustaram-se com as guinadas bruscas do presidente, que carece dos princípios básicos do conservadorismo: cautela, prudência e moderação.

Nós, liberais, aos poucos fomos deixando o governo à medida que entendemos que nossa agenda serviu apenas de combustível eleitoral para Bolsonaro. Uma agenda que rendeu votos, mas que não tinha a mínima chance de prosperar diante de um presidente seduzido pelo populismo, vigilante em blindar os seus e que se sentia mais confortável ao lado de militares de baixa patente e parlamentares do baixo clero. Percebemos que era um homem que não estava à altura do cargo ou dos desafios que a posição impõe.

Houve um estelionato eleitoral de proporções épicas. Além de não cumprir a agenda de campanha, Bolsonaro esforçou-se em caminhar para o lado oposto, impondo medidas que são diametralmente opostas ao que foi prometido, deixando lava-jatistas irados, antipetistas decepcionados, conservadores irritados e liberais desolados. Bolsonaro no poder tornou-se um presidente abaixo da média, sem projeto, errático, vacilante, agressivo, autoritário, personalista, populista e fraco. Diante de uma Presidência tão confusa, o caminho do petismo de volta ao Planalto tornou-se uma possibilidade real.

Assim como 57 milhões de brasileiros, votei em Bolsonaro, mas me decepcionei. Sua nova política não passava de mais do mesmo. Apenas velhas práticas envelopadas de forma diferente. Infelizmente falta muito para o Brasil optar pela razão longe da polarização cega que nos fez reféns de dois projetos fracassados.

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