MÁRCIO COIMBRA

Em defesa da democracia

Trump passa longe de ser um conservador. Isso afastou o ainda presidente da base tradicional dos republicanos, abrindo espaço para o ingresso de uma ala radical de corte populista


Publicado em 13 de janeiro de 2021 | 03:00
 
 
 
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A insurreição impulsionada por Donald Trump contra o mais importante símbolo da democracia americana marcará sua Presidência. A marcha contra o Capitólio entrará para a história como um dos eventos mais lamentáveis de um país que existe baseado na força de suas instituições. Ao incitar a marcha de seguidores fanáticos, reféns de seu populismo grotesco, Trump evidencia um padrão de comportamento de líderes perigosos que emergiram recentemente ao poder e tentam subverter a democracia.

Trump passa longe de ser um conservador. Isso afastou o ainda presidente da base tradicional dos republicanos, abrindo espaço para o ingresso de uma ala radical de corte populista. O eleitorado tradicionalmente conservador, representado no governo pelo vice-presidente Mike Pence, é regido pelo princípio da prudência, defensor da cautela, da estabilidade e da moderação, elementos fundamentais dessa vertente política. Na última semana, vimos o rompimento definitivo dessas alas diante do ataque perpetrado contra a democracia americana.

No Brasil, vivemos situação similar. Possuímos um presidente que se diz conservador, mas passa longe dos princípios da prudência, cautela, estabilidade e moderação. Pelo contrário, quando mais incendiar o debate público, melhor para Bolsonaro, que, assim como Trump, aposta na polarização e no embate como elementos fundamentais da política. Entendimento, convergência e diálogo são palavras que passam longe de seu vernáculo político. Longe de ser um conservador, Bolsonaro tornou-se um populista.

Isso fornece um sinal de alerta para a população brasileira. Assim como em Washington, em Brasília existe um presidente que não possui apreço pela democracia e está disposto a quebrar as regras do jogo se assim for de seu interesse. Bolsonaro reiteradamente profetiza que as eleições brasileiras serão fraudadas (especialmente se perder) e não hesitará em esticar a corda, assim como o colega americano, em caso de derrota.

Devemos nos perguntar se nossas instituições estão preparadas para tamanho desafio. O Brasil não pode sucumbir diante de mais um tiranete de plantão a despachar no Palácio do Planalto. Foram 21 anos de ditadura, e nossa democracia, jovem e vibrante, não merece tamanho desrespeito. Os pilares da justiça, assim como do parlamento, serão fundamentais neste momento de prova. Mais do que isso, no intuito de evitar um autogolpe, a democracia brasileira precisa pressionar pelo desembarque imediato dos militares do governo Bolsonaro sob pena de confundirem-se com as aventuras antidemocráticas de um simples capitão.

O mundo assistiu atônito as manobras de Trump para permanecer no poder. Sofrerá duras consequências nos tribunais assim que deixar a presidência. Com dois impeachments aprovados pela Câmara, sairá pelos fundos da Casa Branca e certamente em pouco tempo ocupará um lugar de ostracismo na história. Populistas podem parecer grandes hoje, mas, assim como sobem, descem.

Que nossa democracia e instituições sejam mais fortes que os ímpetos golpistas dos oportunistas que transitoriamente ocupam o poder.

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