MÁRCIO COIMBRA

Guinada populista

A Argentina segue refém do populismo peronista, um movimento que assume diferentes formas e trilha caminhos peculiares para ascender.


Publicado em 19 de agosto de 2019 | 03:00
 
 
 
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As prévias na Argentina mostraram que o país vizinho está fazendo a opção por uma guinada populista, longe da racionalidade econômica e política. O caminho a ser trilhado tende a ser mais uma vez o peronismo, uma espécie de populismo que transita pela direita e esquerda, responsável pelo débâcle econômico e social que se abateu por lá desde a chegada de Juan Perón ao poder.

Não é a primeira vez que existe um movimento consistente liberal que tenta livrar o país das amarras do populismo. No passado, a União Cívica Radical tentou implementar uma agenda de cunho liberalizante. Macri tenta novamente seguir este caminho, entretanto, a complexidade das estruturas sociais do país acabam por inviabilizar estes governos de cunho reformista, sempre devolvendo o peronismo ao poder.

Isto leva a conclusão que a Argentina segue refém do populismo peronista, um movimento que assume diferentes formas e trilha caminhos peculiares para ascender. Infiltrada na dinâmica da sociedade, mais do que uma ideologia, tornou-se um instrumento eficaz de tomada de poder. 

Na economia, o caminho é conhecido. Produz crescimento de curto prazo e distribuição de renda ao custo de aumento da inflação e criação de déficits fiscais. Estes problemas geralmente são enfrentados por governos reformistas, que sucedem os populistas, mas diante dos sérios e dolorosos ajustes aplicados tornam-se impopulares e acabam não conseguindo sua manutenção no poder. 

Este ciclo vicioso tem sido a tônica de muitos países, em especial na América Latina, que ao longo de sua história já viveu períodos de governos populistas em diferentes momentos. No último ciclo, estiveram diante do neopopulismo, uma variante que transitou pela esquerda, sob a influência de Hugo Chavez, que além de usar a retórica e ligação com os movimentos sociais, trouxe como elemento novo a identificação social/étnica dentro de sua estratégia. 

Neste período posterior ao neopopulismo, vemos crescer em diversos países do mundo uma nova variante, que ao contrário da última onda, transita pela direita política. Um movimento que flerta com governos autocráticos, mas também floresce em sistemas democráticos. Nesta nova direita encontram-se governos de dois cortes: liberais e interventores na economia. Nos primeiros, o populismo é encoberto pelas políticas reformistas, enquanto nos outros, a característica dominante é a autocracia. 

Na Argentina, o governo reformista acaba de adotar políticas populistas como forma de tentar uma virada no jogo eleitoral. Será uma tarefa difícil. Os peronistas entendem desta dinâmica melhor do que qualquer outro grupo político. O lado triste desta história é perceber que mais uma vez perde-se uma oportunidade rara de produzir reformas capazes de alçar o país a um patamar de crescimento sustentável, longe de políticas ultrapassadas que tornaram o país refém de seus próprios erros.

 

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