MÁRCIO COIMBRA

Poder moderador

Ao cercar-se dos militares, Bolsonaro buscou criar uma blindagem em torno de si mesmo que, ao mostrar-se efetiva, pode ajustar os caminhos do governo


Publicado em 17 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Diante da dança de cadeiras ministeriais, o governo Bolsonaro inaugura uma nova fase. Aos poucos, a influência moderada dos militares começa a se consolidar, trazendo para o gabinete presidencial um perfil ponderado e conciliador. Para além disso, o fechamento de uma equipe de perfil homogêneo no terceiro e quarto andares do Planalto ajudará a administração a encontrar um caminho mais criterioso na condução do governo.

A reforma foi profunda, com um intuito claramente político de viés interno. Ao acomodar generais em locais estratégicos, o presidente isola outro setores, inclusive nos círculos mais próximos, que, até então, calibravam seu entendimento dos cenários. Ao cercar-se dos militares, Bolsonaro buscou criar uma blindagem em torno de si mesmo que, ao mostrar-se efetiva, pode ajustar os caminhos do governo.

Se de um lado a presença desses generais estabiliza o Planalto, de outro revela-se uma aposta de alto risco para as forças, uma vez que, diante desse movimento, os militares passam a se envolver com a alma do governo, confundindo-se com a administração Bolsonaro. Tornam-se fiadores e também responsáveis pelos resultados de forma objetiva, apesar de encararem o desafio simplesmente como uma missão institucional.

Se Bolsonaro busca se isolar de certos círculos trazendo os militares para o núcleo de poder, isso faz com que sua posição também se torne mais sensível na cadeira presidencial. Precisará agir com mais prudência e temperança no cotidiano, retribuindo a confiança que os militares estão depositando em seu governo, afinal os generais jamais aceitariam uma missão que não fornecesse o instrumental mínimo para sua execução. Levar as Formas Armadas para o centro do poder, com altos oficiais da ativa, é uma enorme responsabilidade para uma instituição que recompôs sua imagem de forma admirável nas últimas décadas.

Da mesma forma, um desembarque desses oficiais do governo acarretaria um desgaste enorme para o presidente, abalando sua autoridade e confiança, sepultando suas perspectivas eleitorais. Bolsonaro fez uma manobra política correta, porém ousada, uma vez que mexeu no tabuleiro com as peças de uma das instituições mais respeitadas da República. Precisará confiar e corresponder a tamanha confiança que foi depositada em sua Presidência pelos militares.

Esta guinada pode fornecer o equilíbrio que faltava ao governo até aqui. Estamos diante de uma equipe palaciana que se fará ouvir em tom uníssono diante de Bolsonaro, imprimindo maior grau de sobriedade ao Planalto. Além dos ministros Ramos, Braga Neto e o secretário Viana Rocha, generais e Almirante da ativa, ainda estarão neste círculo presidencial os generais Heleno, do GSI, e Rêgo Barros, porta-voz, oficiais da reserva, além do vice- presidente Hamilton Mourão.

Bolsonaro encontrou uma grande oportunidade de fazer seu governo achar um balizamento homogêneo e conciliador, com resultados efetivos e racionais. Precisará ouvir seus auxiliares que nascem como um poder moderador, trazendo conhecimento, equilíbrio e sensatez ao presidente. Um movimento que, ao nascer no Palácio, pode expandir-se pelo governo.

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