Surreal! Difícil entender como se encaixa em processo "democrático” uma eleição na qual os votos valem seis para as federações estaduais e um para os clubes e atletas, os verdadeiros donos do espetáculo. Desde 1975, o vôlei brasileiro não contava com uma chapa de oposição, outro absurdo. Ter uma disputa foi um ponto positivo e fora da curva na enxurrada de reclamações após a confirmação da vitória da chapa Tradição, Ética e Inovaçāo, que dita as regras há 45 anos. Imagina-se que, ao final de uma disputa eleitoral, a maioria comemore. Nesta disputa, 95% dos atletas repudiam o resultado. Discrepante, resultado da indignação de quem “apita’’ pouco quando deveria caminhar lado a lado.
Norte e Nordeste definiram a eleição e é no mínimo questionável estados com pouca expressão na modalidade terem o poder de decidir uma eleiçāo. Minas Gerais, com quatro dos maiores clubes do Brasil, São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal são exceções, votaram na chapa Renovação. Justamente a maioria que vive o vôlei na essência, pensando na base, no presente e no futuro. Como caminhar mais quatro anos trabalhando para a maioria que votou contra a manutenção da atual presidência?
Admito que não fui atuante fora das quadras durante a minha carreira em questões que poderiam beneficiar o esporte. Imaturidade, falta de conhecimento, medo de retaliação da entidade e dos clubes? Um pouco de tudo responde essa questão. Acompanhando a discussão no “tribunal da internet’’ percebi que muitas pessoas questionam a inércia da maioria dos atletas e os motivos citados acima respondem ao baixo engajamento da classe. Vou além: a maioria esmagadora não quer se comprometer. Fui atleta de dois dos maiores clubes do país e a eles confiava o poder de decisão que, em 90% das decisões, eu estava de acordo.
Acusações por parte da chapa encabeçada por Túlio, vice-presidente da Federação Mineira, ligam o sinal de alerta na comunidade do voleibol. Informações que foram escancaradas na corrida pela presidência eram exclusivas de quem comandava o esporte no país sem ser incomodado e questionado.
Os clubes estavam cientes de alguns episódios, mas nunca chegaram ao consenso para lutar em conjunto pelo bem da modalidade. Opiniões divergentes e interesses próprios limitavam a luta pelo bem comum. Há pouco tempo, existe uma comissão de atletas que dá a estes voz nas decisões. Estamos avançando mesmo que a passos lentos, fato positivo.
Estamos no primeiro episódio de uma disputa política que já está sob júdice. O futuro é incerto e o que podemos fazer, enquanto isso, é lutar por igualdade no processo democrático. A forma de disputa atual privilegia quem está no poder. Aos amantes do voleibol, da informação precisa e de qualidade, sugiro acessar o portal O TEMPO, buscar vôlei e se aprofundar na discussão. São matérias relevantes e esclarecedoras. Grande abraço, pessoal!