A Cia. Luna Lunera chega aos 15 anos com inquietações de meia-idade. “Costumamos brincar que um ano de teatro equivale a três anos da vida de uma pessoa, tamanha a intensidade do trabalho. Já estamos nos sentindo praticamente com 45 anos”, comenta Marcelo Souza e Silva, um dos fundadores do grupo.
Para o ator, embora o momento seja de celebração para a companhia, que já ofereceu ao público sete espetáculos, dentre eles os elogiados como “Aqueles Dois” (2007) e “Prazer” (2012), é hora também de o Luna Lunera olhar para o presente e fazer um balanço sobre sonhos e fracassos. “Urgente”, que estreia na próxima quinta (31), no Centro Cultural Banco do Brasil, é fruto de tais reflexões.
“É um momento de pensar projetos novos. O que nos move enquanto indivíduo? O que nos angustia e nos inquieta? Essas são questões existenciais que perpassam nosso processo de criação. Durante essa etapa, nos reunimos e propusemos que cada um expressasse o que se passava dentro de si. Dessas conversas, percebemos inquietações cotidianas e universais. Foi mais ou menos assim que nasceu ‘Urgente’”, conta Marcelo, apontando a dificuldade de conviver com as urgências impostas pelo outro como uma das inquietações mais frequentes dos atores.
“Quando eu falo ‘outro’, estou me referindo ao outro enquanto sociedade, que nos impõe padrões de vida, de comportamento. Tudo é urgente e, sem perceber, somos convocados por essa urgência, colocados dentro dela. Queremos discutir esses padrões, de alguma forma, adormecidos pelo coletivo”, destaca Marcelo.
De acordo com o ator, “Urgente” trata de indivíduos que refletem sobre a sensação de achatamento de suas especificidades perante o sistema político e econômico.
Em um cenário composto por quatro nichos de um metro quadrado cada, cinco personagens expressam os desafios em ser um indivíduo com vontades próprias em um mundo cada vez mais globalizado. Ao mesmo tempo expressam os desafios em ser um indivíduo que se relaciona e se interessa pelos outros em um mundo cada vez mais individualista. “Com uma limitação física mesmo, os nichos do cenário dão a ver isso. Em cada um deles apresentamos discussões diferentes, mas interconectadas, como a relação com as telas de computador, do celular, a tônica do trabalho, a vontade de desacelerar”, explica. 
 
Inspirações
A discussão sobre a instantaneidade do contemporâneo em relação à necessidade do homem em buscar sentido no contexto e na memória, levada a cabo pelo pesquisador francês Paul Virilio, além dos pensamentos do filósofo romano Sêneca (4 a.C./65 d.C) sobre a duração da vida – “nada breve, como nos fazer crer” – foram inspirações.
O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) e a possibilidade de mudança no aqui-e-agora do homem, e a passagem do tempo na ótica do físico e matemático francês Blaise Pascal (1923-1962) também adensam o argumento desta “peça de coletivos”, como define Marcelo.
A direção é assinada por Miwa Yanagizawa e Maria Sílvia Siqueira Campos, do Areas Coletivo de Arte, e a trilha sonora conta com a banda Constantina.
 
Peça da Luna Lunera Cia. de Teatro que mais gosta
“Não consigo eleger uma, são como filhos, cada uma com sua peculiaridade”. 
Peça de outra companhia que mais gostou de assistir “Hysteria”, do Grupo XIX de Teatro (São Paulo), “E Se Elas Fossem a Moscou”, de Cristiane Jatahy (artista residente da Cent-Quatre-Paris) e “Agreste”, da Cia. Razões Inversas (São Paulo). “De modo singular, cada uma delas se equilibra entre a delicadeza, a inovação e a pungência na abordagem de temas como intolerância e sexismo”. 
Um ator 
“Alexandre de Sena, com quem estou tendo a alegria de trabalhar junto e o norte-americano Joaquin Phoenix, um ator que, na minha opinião, arrebata pela transformação do olhar”. 
Uma atriz 
“Fafá Rennó, uma delícia de se trabalhar e de se ver, e Renata Sorrah, intensa e versátil”.
Um papel que
Um papel sem fala ou sem movimento, que me leve à exploração de outras possibilidades e de relação. 
 
 
 
 
 
Urgente
CCBB (praça da Liberdade, 450, Funcionários, 3431-9400). De 31 de março a 16 de maio (quinta a segunda, às 20h). R$ 10 (inteira)