Há pouco mais de dois anos, o mundo era um lugar sem Lana Del Rey, 27. Não era tão diferente do que é hoje, mas tinha um grau a menos de polêmica e um grau a mais de marasmo sem as 50 milhões de visualizações no You Tube de “Video Games”, música que mostrou a cantora norte-americana para o mundo, sem as 5 milhões de cópias vendidas do disco de estreia “Born To Die” e sem o visual fashion-retrô e os lábios carnudos, imagem meticulosamente esculpida segundo os detratores, mas conjunto perfeito para o mercado estampar capas de revista, editoriais de moda (como a “GQ” e “Vogue”) e publicidade (como a cultuada marca de fast fashion sueca H&M e a multinacional de automóveis Jaguar).
Do tipo ame ou odeie, apesar de ou por causa da rápida e bem-sucedida trajetória, a cantora traz sua bagagem pela primeira vez ao Brasil e faz sua estreia nacional em Belo Horizonte na próxima quinta-feira (7), no Chevrolet Hall. “Para quem dizia que BH até pouco tempo atrás só recebia quem estava em fim de carreira, a Lana está aí para provar exatamente o contrário. Ela é uma artista em ascensão e está tocando na nossa cidade no auge, gostem dela ou não”, decreta o jornalista e crítico musical Rodrigo James, já colocando em pauta a polêmica em torno da aceitação da cantora.
Lana x Lizzy
Tudo se deve ao passado de Lana, batizada Elizabeth Grant. Em 2010, virou Lizzy Grant, cantora de visual básico, cabelos curtos, lábios finos e performance tímida que lançou na loja virtual iTunes o disco “Lana del Ray a.k.a Lizzy Grant" (exatamente, R-A-Y, no lugar de R-E-Y). Poucas semanas depois, o disco foi retirado do ar e nunca mais voltou ao mercado por vias oficiais. No ano seguinte, a jovem ressurgiria como Lana del Rey, de visual novo, no clipe de “Video Games”, postado no YouTube. Segundo Lana, ela mesma colocou o vídeo na rede por se tratar de sua faixa favorita do então novo disco que preparava.
Mas o rápido sucesso que o vídeo atingiu, transformando-a em um fenômeno da internet meses antes do disco ser lançado, fez uma parcela do público acreditar que tudo se tratava de um viral planejado para “bombar”. Uma performance ao vivo desastrosa para uns, apenas nervosa para outros, no programa de TV norte-americano Saturday Night Live, dias depois do lançamento de seu primeiro disco como Lana, “Born To Die”, só fez aumentar o coro dos críticos e, desde então, essa mesma parcela a trata como uma cantora fabricada. “O que importa é se ela dá conta do recado em cima do palco. Não vejo problema nenhum com cantora fabricada. As pessoas estão se preocupando mais com outras coisas que com a música. Deveria ser o contrário”, argumenta James, que vê qualidades na cantora.
“Ela tem um tom de voz mais baixo, mais sombrio, até um pouco monocórdico, diferente de outras cantoras. É um tipo de música mais cool, um pouco inspirada na chanson française, com uma mistura de jazz, lounge music”, descreve. “É uma artista que não é revolucionária, não vai mudar o mundo, mas não é um completo lixo como tem muita gente falando. Ela é uma boa cantora, tem beleza – e isso importa, mas é exatamente por isso também que a criticam tanto, como se ela fosse só um rosto bonito”, completa.
Avessos aos críticos, os fãs seguem dando sustentação ao entusiasmo em torno de Lana. Em Belo Horizonte, pelo menos 80% dos ingressos para o show da cantora se esgotaram em menos de uma semana. Em São Paulo, ela se apresenta no festival Planeta Terra e, pela primeira vez, o evento se viu obrigado a reduzir a classificação etária de 18 para 16 anos após seguidos protestos dos fãs nas redes sociais.
Lana, por sua vez, fazendo jus ao seu poder de se propagar, tem se aproximado dos ouvidos brasileiros do público geral de maneira bastante peculiar, marcando presença em trilhas sonoras de novelas. Começou com “Video Games”, em “Avenida Brasil”. Na sequência, vieram “Ride”, em “Salve Jorge”, “Born To Die”, em “Flor do Caribe” e “Young and Beautiful” em “Amor à Vida” (música também presente na trilha de “O Grande Gatsby”).
Todas músicas do álbum “Born to Die” se juntam às faixas do EP “Paradise” (2012) para compor o repertório do show que BH verá. Nada de músicas novas por enquanto. No fim de outubro, a cantora disse à imprensa que não consegue pensar ainda em um novo disco.
Despedida
À vista, por enquanto, é o média-metragem “Tropico”, no qual Lana atua ao som de algumas de suas músicas. Em agosto, ao anunciar o filme, porém, Lana referiu-se a ele em seu perfil no Twitter como “projeto de despedida” e nunca mais tuitou. Mais um mistério pra conta de Lana, ou Lizzy.
Lana Del Rey
Chevrolet Hall (av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, 4003-5588). Quinta-feira (7), às 21h. R$ 290 (inteira, 4º lote)