Ele tentava de tudo, nada adiantava, o porquinho da índia só queria ficar debaixo do fogão. O convívio frustrado com o animal de estimação, que não respondia às suas “ternurinhas”, foi imortalizado por Manuel Bandeira (1886-1968) no poema “Porquinho-da-Índia”, lançado em 1930. No entanto, se estivesse sendo escrito hoje, talvez muita gente o contestasse. “Esse e outros roedores são animais que interagem sim, que se apegam muito ao dono”, comenta Rita Vidigal, 37.
A vendedora, que atualmente cria em seu apartamento cinco ratos twister, nove hamsters e oito porquinhos da índia, tomou gosto pelos dentuços ainda criança, mas só há três anos resolveu tê-los como companhia permanente. “É uma paixão. Como fico em casa o dia inteiro, eles são os meus companheiros. Eles retribuem o carinho que damos, reconhecem nossa”.
Na casa de Isabel Gonzaga é a mesma coisa. A perita criminal conheceu os porquinhos da índia através de uma vizinha quando tinha 5 anos e até hoje, aos 29, se diz encantada. “Eles são ótimos saltadores e um dia o Ezio conseguiu pular o cercado. Ele foi até meu quarto e do meu marido às 4h da manhã e começou a fazer o ‘cui cui’ característico, chamando a gente”, se diverte.
As duas pesquisaram muito antes de optar por esse tipo de pet e garantem que fator essencial na criação é informação. Para trocar experiências e reunir pessoas interessadas em roedores, mais especificamente porquinhos da índia e ratazanas domésticas, Rita está ajudando a organizar um encontro no dia 6 de setembro, na Praça da Liberdade.
“Teremos a presença de especialistas para debater e tirar dúvidas sobre o porquinho. Tem muita gente que não sabe que ele precisa ingerir vitamina C, por exemplo”, destaca Rita.
Roendo, roendo...
Ao contrário de outros animais e assim como o ser humano, os roedores não produzem essa vitamina, sendo preciso adquiri-la através da alimentação. “Esses animais devem ter uma dieta rica em frutas e legumes, além de o dono também poder fornecer uma ração adequada”, comenta Maria Elvira Costa, veterinária da seção de nutrição da Fundação Zoobotânica de BH.
No entanto, segundo Pablo Pezoa, veterinário especialista em animais não convencionais, há que se ter muito cuidado com as rações que se encontram no mercado pois, formuladas para atender várias espécies, podem não suprir as especificidades de cada bicho. “Porquinhos da índia e chinchila são herbívoros, enquanto os ratos twister e os hamsters são granívoros, aqueles que se alimentam de grãos. Então, duvide de rações que prometem alimentar a todos adequadamente”, aconselha o veterinário, que indica o rato twister e o porquinho da índia como as melhores opções para quem gosta de companhia, uma vez que são muito familiares.
Como alguns ou todos os dentes desses animais nunca param de crescer, é importante também fornecer alimentos que ajudem a gastar a mordida. O feno é uma opção essencial, principalmente para os herbívoros. Já para os granívoros, que têm o crescimento contínuo só dos incisivos, a ração e as sementes fazem bem o papel do desgaste, indica Pezoa. Além disso, brinquedos também podem ocupar as mordidas desses bichos que roem tudo que veem pela frente e Maria Elvira chama a atenção: “é preciso oferecer atividades a eles. Só deixar na caixinha não serve. Eles são muito ativos na natureza”.
Cuidados com os animais de estimação
Dentes Se não são naturalmente gastos, os bichos podem apresentar maloclusão dentária, o que pode, por sua vez, demandar o desgaste cirúrgico.
Higiene Não necessitam de banho, o cheiro forte ou ruim que por ventura emane do abrigo pode vir da urina ou de sujeira acumulada no local. É importante trocar a serragem e os tapetes higiênicos com frequência.
Saúde Não existe vacinação. Pelo menos uma vez por ano, os animais devem fazer exames de rotina, como o de fezes, para ver se está tudo bem.