Catarina sempre foi a princesa do lar. Cadela do casal Mariana Andrade e Talles Amorim há quase três anos, a pinscher malhada em preto e branco ocupava um espaço praticamente só seu, dividido apenas com a gatinha Lola que vez ou outra dá o ar da graça. Como é criada em apartamento, a peluda está acostumada a perambular por todos os cômodos e inclusive a dormir com o casal. Quer dizer, estava acostumada. Quando o pequeno Téo chegou, há seis meses, Catarina perdeu algumas das antigas regalias e agora tenta se acostumar com a presença de mais um ser em casa.
“Quando o bebê chega, é como se significasse, para o animal, que ele vai ter um concorrente, que ele vai ter sua atenção dividida”, comenta o terapeuta canino Humberto Araújo. Mas não precisa ser sempre assim. Segundo ele, há uma série de atitudes que podem ser tomadas de forma a tornar as boas-vindas ao rebento a mais natural possível. Afinal, algumas transformações na rotina da casa, ainda que pequenas, são inevitáveis.
Assim aconteceu com Mariana e Catarina. Logo que descobriu a gravidez, a arquiteta começou a acostumar a cadela com a nova realidade que estava por vir e um dos primeiros passos foi destroná-la da cama do casal. “Ela ficou arrasada, descia com a orelha baixa, quietinha”, conta Mariana. Falando de forma carinhosa mas com voz firme, ela foi aos poucos afastando a cadela do lugar que seria ocupado pelo, ainda, frágil Téo.
Carinho
“Essas transformações devem ser feitas pelo menos dois meses antes da chegada para que a mudança não seja brusca e o animal fique ansioso ou agressivo, associando a criança a algo negativo”, aconselha Humberto.
À época, Mariana ficou com medo de que Catarina se deprimisse, mas ela tem reagido bem. Apresentada ao bebê desde que saiu do hospital e incentivada a participar dos momentos com ele, hoje a pet gosta de estar junto e já demonstra carinho.
Afinal, segundo o professor do curso de veterinária da PUC Minas, Vítor Ribeiro, depois de já estabelecida a nova configuração da família, o importante é dedicar a mesma atenção a todos os entes, sem distinção. Segundo ele, os gatos são mais discretos com relação à demonstração de afeto dos cães, mas merecem carinho igual.
Agora, se os cuidados com a saúde do pet sempre foram essenciais, com um bebê em casa, obrigatórios. “Dentro do seio familiar, o animal deve ter uma supervisão regular, estando adequadamente vacinado e vermifugado, com os cuidados dentários e o banho em dia”, orienta o veterinário. As dicas valem para cães e gatos.
Convívio é saudável e traz benefícios
Quando Iolanda, de 8 meses, nasceu, ela já contava com três irmãos. Raul, Elvis e Nazaré, todos de 5 anos, são os animais de estimação da jornalista Letícia Murta, para quem todos são seus filhos. Ocupando o mesmo espaço, a pequena Iolanda e os bebês, como são carinhosamente chamados, brincam e crescem juntos.
“Nunca afastei os três dela. Estudos diversos mostram os benefícios de se ter um cão junto a um bebê e criança. Eles vão além do psicológico e atingem até o sistema imunológico”, comenta ela, que durante a gravidez recorreu até a florais para pets especialmente voltados para a chegada do bebê.
Sem distanciar os bichos da criança, de acordo com Humberto Araújo, é possível tornar o convívio mais saudável e higiênico. “Se o animal lamber, por exemplo, elogie. Então, pegue um álcool em gel e limpe a mão do neném em seguida. Ele está lambendo porque quer demonstrar carinho, não se pode repreender o animal por isso”.
Afinal, para Vítor Márcio Ribeiro, professor de veterinária da PUC Minas, em princípio, a relação do recém-chegado com os bichos não apresenta problema algum, contanto que eles estejam devidamente cuidados. “Não se pode prever se o bebê apresentará reações alérgicas ou demais problemas decorrentes desse convívio. Então, é bom os pais ficarem de olho”.
Dicas
Limite Se o animal tem acesso livre aos cômodos da casa e você não quer que o animal entre no quarto do bebê, não impeça o acesso de forma brusca, vá limitando aos poucos até ele se acostumar. Isso vale para outras atitudes comuns que você queira restringir.
Cheiro Faça com que o animal se aproxime do bebê e o cheiro, para que ele o reconheça como presença familiar na casa.
Choro Vale colocar o som de um bebê chorando para que ele se acostume com o barulho que será bem frequente em algumas semanas. Preste atenção na reação do pet, se ele latir ou ficar nervoso, pare e tente em outro momento, se ele reagir bem, elogie. Recompensas como petiscos valem para mostrar ao bichinho que ele fez algo bom.
Estranhamento Um dia antes de levar o bebê para casa, passe uma fralda de pano no corpo do bebê para que fixe o cheiro e apresente ao animal. Quando o bebê chegar, ele não vai estranhar.
Rotina Tente não mudar a rotina do seu pet, levando para passeios, por exemplo, nos horários de sempre.
Atenção Dê atenção ao pet quando o bebê estiver presente, assim ele se sentirá parte da família e associará o novo ente a algo positivo.