A proposta inicial era simplesmente oferecer à população belo-horizontina programação cultural em um mês em que historicamente a cidade carecia de tais atividades. Porém, chegando a sua terceira edição a partir do próximo domingo (2), o Inverno das Artes se consolida não só como uma alternativa num período mais “morno”, mas como um evento múltiplo, diverso e com atrações de peso se apresentando, tanto locais quanto de fora.
“O primeiro ano, em 2015, foi uma espécie de piloto, para ver como a coisa andava. Ainda não tínhamos um conceito elaborado, apenas uma coisa era clara: queríamos trazer novidades”, afirma Augusto Nunes Filho, presidente da Fundação Clóvis Salgado (FCS). “No segundo ano, percebemos que estava-se discutindo muito a antropofagia, o tropicalismo. Então, resolvemos fazer um percurso nesse momento da MPB, convidamos, entre outras pessoas, o pessoal da vanguarda paulista e trabalhamos nesse eixo”.
Este ano, o foco escolhido foi a arte negra. Entre shows, bate-papos, espetáculo de dança, teatro e mostras de cinema, o Inverno das Artes destaca a produção de artistas negros locais, nacionais e internacionais. “Belo Horizonte sediaria um festival mundial de arte negra e achamos que não faríamos mais que nossa obrigação em acompanhar o evento e oferecer uma programação com o que temos de melhor nesse nicho. Por questões que nos fogem do controle, o festival foi cancelado, mas achamos que era legítimo manter esse como nosso foco”, explica o presidente, adiantando que outros eventos da FCS manterão a proposta, como o Sinfônica Pop e a ópera que será montada no segundo semestre – “Porgy and Bess”, de George Gershwin (1898-1937).
Elza Soares abre a programação com show do aclamado álbum “A Mulher do Fim do Mundo”, a atriz e cantora Zezé Motta vem para uma apresentação musical interpretando sucessos de Elizeth Cardoso (1920-1990); Sérgio Pererê comanda um bate-papo sobre arte e ancestralidade afro-brasileira, e Fabiana Cozza faz uma homenagem ao pianista cubano Bola di Nieve com o show “Ay Amor!”, entre outras atrações.
“A gente precisaria de ‘N’ festivais para contemplar tudo o que pensamos para todos os campos. Diria que talvez esse seja um momento em que todo mundo está mais atento à arte negra. Nós não necessariamente esperamos um evento com esse foco para contemplar esses artistas, mas diria que vivemos um momento de reconhecimento ou incorporação natural da arte negra no nosso cotidiano”, pontua Augusto Nunes Filho.
Voz e piano
No dia seguinte à abertura do festival, Alaíde Costa apresenta um show com canções de diferentes momentos de sua carreira. “Vou fazer algumas coisas do ‘Canções de Alaíde’ (2015), outras que interpretei ao longo de minha carreira e também de um trabalho que ainda vai ser lançado, no segundo semestre deste ano”, conta.
No palco, a cantora estará acompanhada somente de um pianista, que é a forma como mais gosta de se apresentar. Para ela, um evento como esse é importante para dar dimensão da diversidade da arte negra. “Muitas vezes quando se fala em artista negro as pessoas se restringem a pensar em samba e rebolado, mas eu, por exemplo, faço completamente o inverso disso tudo”.
Aos 81 anos de idade e 60 de carreira, ela celebra os múltiplos convites de trabalho que tem recebido nessa etapa da vida. “’Nesses últimos anos tenho tido mais oportunidades do que ao longo da minha carreira e isso é muito bom. Muita gente pensa que aos 81 não dá mais para cantar, mas eu estou ótima, graças a Deus”.
Elza Soares apresenta o aclamado disco “A Mulher do Fim do Mundo”, produção que lhe rendeu o Grammy Latino de melhor álbum de Música Popular em 2016.
Onde Grande Teatro Quando Dia 2 (domingo) Quanto R$ 100 (inteira)
Sérgio Pererê propõe uma roda de conversa para discutir como a ancestralidade africana influenciou a formação cultural brasileira.
Onde Sala Juvenal Dias Quando Dia 7 (sexta) Quanto Entrada franca.
Fabiana Cozza interpreta sucessos do pianista, cantor e compositor cubano Ignácio Jacinto Villa Fernandez (1911-1971), mais conhecido como Bola de Nieve, no espetáculo “Ay Amor!”
Onde Sala Juvenal Dias Quando Dia 10 (segunda) Quanto R$ 40 (inteira)
Rui Moreira Cia. de Danças apresenta “Faça Algum Barulho”. Na montagem, dois andançarinos, confrontados por suas diferenças, reinventam sua expressão.
Onde Sala Juvenal Dias Quando Dia 12 (quarta) Quanto R$ 40 (inteira)
A Família de Rua que promove o Duelo de MCs, participa de bate-papo sobre o coletivo, seus desdobramentos e próximos passos do grupo.
Onde Sala Juvenal Dias Quando Dia 14 (sexta) Quanto Entrada franca
Zaika dos Santos traz sua música, que contém em si o feminismo negro, o interseccional, afrofuturismo e afropsicodelia, passando pelo reggae eletrônico e a percussão brasileira.
Onde Sala Juvenal Dias Quando Dia 17 (segunda) Quanto R$ 40 (inteira)
Spike Lee (foto) e Raoul Peck, cujas filmografias retratam o negro na sociedade contemporânea, terão, cada um, uma seleção de suas obras exibidas
Onde Cine Humberto Mauro Quando De 28 de julho a 17 de agosto Quanto Entrada franca
Zezé Motta mostra seu lado cantora no show “Divina Saudad, uma homenagem à grande diva da música brasileira Elizeth Cardoso (1920-1990)
Onde Sala Juvenal Dias Quando Dia 24 (segunda) Quanto R$ 40 (inteira)
Criolo apresenta o álbum “Espiral de Ilusão”, lançado em abril, que é um disco em homenagem e baseado no universo poético do samba.
Onde Grande Teatro Quando Dia 29 (sábado) Quanto R$ 80 (inteira)
Não Recomendados é um show que reúne três autores intérpretes para questionar, provocar e transformar os padrões comportamentais e viciados da sociedade.
Onde Sala Juvenal Dias Quando Dia 31 (segunda) Quanto R$ 40 (inteira)
3º Inverno das Artes
Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, 3236-7400). De 2 a 31. Confira detalhes da programação nesta página.
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