Na última semana, Marty McFly, protagonista da trilogia “De Volta Para o Futuro”, foi constantemente lembrado por conta do 21 de outubro, data da sua chegada nos tempos altamente tecnológicos imaginados para 2015. A enxurrada de postagens nas redes sociais enfatizava principalmente que, não, ainda não temos o tão almejado skate voador nem os tênis cujos cadarços se amarram sozinhos. Mas há que se reconhecer que há muitas outras inovações que fariam o personagem de Michael J. Fox se deslumbrar com o futuro.
Ou se assustar um pouco. Sim, McFly, as pessoas estão cada vez mais fissuradas pela aparência. A estética e os cosméticos são alguns dos interesses que mais crescem no mundo e muito da criação de tecnologias é desenvolvido a serviço da aparência.
Nesse futuro que já começou, as pessoas estão injetando chips em seus corpos para conseguirem músculos mais vistosos e fazendo da pele um lugar onde é possível estampar qualquer marca, com a possibilidade de se retirar tudo depois. A chegada de mais e mais produtos antioxidantes, antirrugas, anti-marcas de expressão nas lojas aponta que juventude é o imperativo, envelhecer, nem pensar. E tem gente que vive em função de atrasar os ponteiras da máquina do tempo biológica. No entanto, o momento em que termina a vontade de se sentir bem diante do espelho e começa a patologia tem sido a pauta de discussão de muitos especialistas.
“O uso dos serviços e produtos de estética pode, sim, ser feito com qualidade, mas é preciso aceitar os limites do corpo”, comenta Margarete Rien, coordenadora do curso de estética da Universidade de Passo Fundo (RS).
Deste sábado (24) até segunda (26), ela e mais uma série de outros atuantes da área vão discutir o que há de ponta nesse mercado no Congresso Científico Internacional de Estética. Pelo segunda vez consecutiva realizado em BH, o evento confirma que grande parte dos esforços da indústria e da pesquisa estão voltados para a beleza. E é preciso falar sobre isso.
“Chip hormonal” gera polêmica
Apelidado de “chip da dieta” ou “chip fashion”, por sua adesão entre modelos e atrizes, como Letícia Birkheuer, 37, e Daniella Sarahyba, 30, a tecnologia tem dado o que falar. Os chips são tubinhos de plástico ou de silicone que contêm um combinado de hormônios e são implantados na região do quadril dos pacientes, com troca que varia de seis meses a três anos. Utilizado majoritariamente tratar para doenças, fazer reposição hormonal ou como método contraceptivo, tem sido usado também, de forma polêmica, em função de seus efeitos colaterais: ganhos consideráveis de massa muscular e diminuição da celulite.
Segundo Walter Pace, professor de ginecologia da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, isso é possível porque o implante permite adquirir o hormônio masculino testosterona sem que ele tenha que passar pelo fígado. Animada com os resultados no tratamento da tensão pré-menstrual da filha, Adelaide Canuto, 48, empresária linfoterapeuta, resolveu aderir ao implante de forma preventiva, para combater os sintomas da menopausa que está por vir. “Me senti mais disposta e gostei das mudanças no meu corpo, como a rigidez muscular, mas sempre me cuidei e fiz exercícios físicos”, conta ela. Ou seja, os sedentários não precisam nem cogitar a ideia. “Não existe nenhum milagre. De fato, o implante permite esses ganhos se a pessoa os estimular, mas cada corpo é único e responde de forma diferente ao tratamento”, comenta Pace, que alerta para a necessidade de acompanhamento médico. Voz grossa, crescimento do clitóris e pelos são algumas das consequências indesejáveis causadas por doses equivocadas.
Para Frederico Carneiro, psiquiatra da Faculdade de Medicina da UFMG, a busca por transformações rápidas na aparência tem a ver com uma relação objetal com o corpo, muito cultivada nos dias de hoje. “Nesses tempos cada vez mais rápidos, as coisas são muito transitórias e as pessoas não param para pensar que algumas coisas são para sempre”, alerta.
Tatuagem é para sempre?
A tatuagem, até outro dia, era considerada uma dessas intervenções no corpo difíceis de reverter, praticamente impossível. No entanto, com o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais eficazes, esse paradigma está em vias de ser quebrado. Hoje, os métodos disponíveis no mercado para remover a marca indesejável que, por algum motivo, foi parar na pele do cliente, são bem menos agressivos que as antigas cirurgias ou raspagens. Há cada vez lasers avançados que prometem menos sessões e resquícios praticamente invisíveis, como o Picosure, já em prática nos Estados Unidos, que emite raios quase indolores em picossegundos (trilionésimo de segundo).
“Ainda não temos esse laser aqui no Brasil. Mas temos alguns outros disponíveis muito eficazes nesse sentido, como os do tipo Q-Switched. Eles funcionam quebrando o pigmento em milhões de pedaços e facilita a reabsorção pelo organismo”, explica o dermatologista Bruno Vargas. Segundo ele, no entanto, condições como ser mais fácil retirar tatuagens pretas do que coloridas continua valendo.
Esse era o caso de Lívia Silva *, 27. A chef de cozinha havia tatuado o nome de seu filho no antebraço. Preto e de pequeno porte, o traço, que não ficou como ela esperava, saiu quase todo em uma única sessão. Há mais ou menos um ano e meio, no entanto, ela ficou com uma cicatriz em baixo relevo no local e afirma ter sentido tanta dor que não topa repetir o processo nunca mais. “Espero mesmo que apareçam métodos mais indolores. Minha experiência foi horrível”, conta.
Nomes de ex-namorados, desenhos feitos na época da adolescência ou em lugares difíceis de tampar com os uniformes de trabalho são as principais demandas nas clínicas que oferecem a remoção, de acordo com Vargas, que aconselha: “embora estejamos avançando, sempre digo que é bem mais fácil e barato fazer a tatuagem do que tirá-la. É muito importante pensar no que você vai fazer com seu corpo”.
Nome fictício*
Reforço a mais na vaidade
Chapinha para os cílios, botox instantâneo, tesoura que corta cabelo sem tirar no cumprimento, escova que desembaraça e massageia os fios, secador de LED para esmaltes… O mundo dos produtos para estética e beleza está cada vez mais hi-tech. Novidades super úteis e interessantes, outras nem tanto, o fato é que a indústria está interessadíssima em agradar um público cada vez mais vaidoso e ávido por tecnologia. Prova disso é a Feira Estétika, que acontece em Belo Horizonte deste sábado (24) até segunda (26). O evento, que faz parte do 2° Congresso Científico Internacional de Estética, traz de novidades no universo das maquiagens, até tecnologias avançadas em aparelhos de radiofrequência e microagulhamento – “o que há de mais moderno no trato de marcas na pele e retardo do envelhecimento”, destaca a curadora Maria de Fátima Lima Pereira. O Pampulha apresenta uma seleção com estas novidades. Confira nossa galeria.