SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO
Matracas e promessas levam 3 mil pessoas às ruas em Sabará
Eles acordaram antes mesmo do sol nascer para seguir a caminho da igreja que, embora interditada, teve a entrada tomada por velas, promessas e muita fé
Cerca de 3 mil moradores de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, e também de cidades vizinhas, acordaram antes do sol nascer nesta sexta-feira (18) para celebrar a Paixão de Cristo. Motivados pela fé, eles tomaram as ruas da cidade e saíram por volta de 4h da Igreja São Francisco a caminho do Morro da Cruz, criando um bonito espetáculo no qual as velas levadas por cada um deles se confundia com a luz do sol que começava a aparecer nas primeiras horas da manhã.
A interdição da Capela do Senhor Bom Jesus, onde até o ano passado era tradicionalmente realizado o ritual de fé, não intimidou os fiéis, que montaram um altar na frente da igreja, onde colocaram as velas e, cada um, a medida de sua necessidade, fazia ou agradecia promessas, cantavam ou simplesmente meditavam. Antigamente, os fiéis faziam o trajeto com os pés descalços, mas a prática deixou de ser usual com o passar dos anos. Apesar disso, ainda é possível ver algumas pessoas que mantém a tradição para pagar alguma promessa.
O caminho íngreme da ladeira, entre a rua Santa Cruz e o Morro da Cruz, não espanta nem mesmo os devotos mais velhos. Mas dessa vez, a pensionista Senhora dos Anjos, 64, que participa da procissão há oito anos, teve que ficar em casa por causa de um problema no pé. No entanto, encontrou outra forma de estar presente. Ela acompanhou da varanda de casa, onde também servia café da manhã para quem quisesse. “Poder dar um copo d´água para quem está com sede é bom demais”, disse, satisfeita. Como ela, outras pessoas que não puderam acompanhar fisicamente a procissão, aderiram a gentileza.
Música e fé
A grande e imponente imagem de Nossa Senhora das Dores acompanhou todo o trajeto, carregada por quatro pessoas. Os fiéis pararam 14 vezes ao longo do percurso para lembrar a morte de Cristo. E a música de fundo foi composta pelos próprios fiéis, que entoavam canções religiosas e orações, acompanhados do som da matraca, uma tradição em Sabará.
O instrumento antigo de madeira é usado para chamar os fiéis para a procissão. Para isso, os matraqueiros acordam por volta de 3h, e saem às ruas na Semana Santa lembrando aos moradores da cidade a tradição.
O matraqueiro Francisco Dario, 42, usou nesta sexta-feira, um instrumento do ano de 1840, do avô dele, que foi passado de geração em geração e Francisco já tem planos para o filho, de 6 anos.”Já estou ensinando a ele, e quero montar uma escolinha de matraca este ano em Sabará”, contou.
Hoje, são poucas as pessoas que se dedicam ao instrumento e, dificilmente, se vê mulheres matraqueiras. “É porque antigamente as mulheres não podiam tocar, mas hoje já pode”, explicou Francisco.
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