Em Três Marias
MP fecha clínica de reabilitação por maus tratos e sessões de tortura
Local trata de viciados em álcool e drogas; vítimas eram submetidas a choques elétricos e torturas psicológicas; correntes de metal, faixas, cordas e cabos foram apreendidos e cinco pessoas presas
Cinco funcionários de uma clínica de reabilitação terapêutica de Três Marias, região Central de Minas, foram presos, suspeitos de casos de agressão, cárcere privado e tortura contra internos. A clínica Novo Viver, que trata de viciados em álcool e drogas, foi interditada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que também pediu a prisão preventiva do proprietário. Correntes de metal, faixas, cordas e cabos foram apreendidos.
Na última sexta-feira (6), o MPMG e a Vigilância Sanitária da cidade realizaram uma ação no local. Lá foram encontradas 44 pessoas internadas, entre crianças, adolescentes, adultos e idosos. Os delitos, segundo as apurações, vinham sendo praticados por funcionários e pelo proprietário da entidade, o que levou o MPMG a ingressar com Ação Civil Pública.
Durante a ação, o MPMG entrevistou os internos da clínica e constatou que, na noite anterior, por determinação do dono do local, um adolescente havia sido espancado e recebido altas doses de medicamentos que o doparam. Em seguida, o menor teria sido amarrado e deixado no chão do quarto coletivo, onde permaneceu durante a noite.
Depois de confirmar as agressões, o adolescente foi encaminhado a um hospital do município, onde ficou internado em virtude de seu quadro de saúde.
Prática comum
O fato, conforme apurado, não foi uma exceção. Foi confirmado que os internos, após ingressarem na clínica, eram mantidos em cárcere privado, submetidos à constante vigilância e, sob pretexto de correção, torturados e castigados.
“Eles eram colocados para encher baldes com água da piscina, ajoelhados, debaixo de sol escaldante, vestidos com agasalhos e utilizando colheres de sopa”, exemplifica o promotor de Justiça José Antônio Freitas Dias Leite. Outros castigos e métodos de tortura também eram aplicados: escrever, ininterruptamente, mil e quinhentas vezes, frases alusivas a supostos atos de indisciplina praticados; sessões de choque elétrico; manutenção dos pacientes amarrados ou acorrentados por horas ou dias; aplicação de medicação controlada em doses elevadíssimas sem prescrição médica com a finalidade de dopá-los, além de constantes agressões físicas e psicológicas.
Na clínica foram apreendidos correntes de metal, faixas, cordas e cabos, que, segundo os internos, eram utilizados pelos funcionários da clínica e pelo proprietário para as sessões de tortura e agressão. “Apesar de o relatório da vigilância sanitária ainda não ter sido entregue, podemos adiantar que a situação é calamitosa, principalmente com relação à qualidade da alimentação fornecida aos pacientes. Além da qualidade duvidosa, o acondicionamento é muito precário. Foram encontrados alimentos vencidos e em estado de decomposição”, acrescenta o promotor de Justiça.
Flagrante
Diante do quadro de “terror e de desrespeito aos direitos fundamentais dos internados”, o promotor de Justiça informa que acionou a Polícia Civil de Minas Gerais, que compareceu ao local e prendeu cinco pessoas em flagrante delito. Os internos, segundo José Antônio Freitas, estão sendo encaminhados as suas famílias.
A clínica
Em seu site, a clínica Novo Viver anuncia contar com ajuda de profissionais de alta qualidade, com larga experiência em dependência química. A metodologia aplicada é baseada nos 12 Passos das irmandades anônimas (AA e N.A) que sugere ao dependente químico um novo estilo de vida com fortalecimento da auto estima e resgate da auto imagem.
Nossa reportagem tentou contato com a clínica, mas o telefone disponibilizado no site não atendeu.
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