Duas cidades, realidades bem diferentes e um ponto em comum: a responsabilidade de sediar os Jogos Olímpicos. Com orçamentos bilionários (veja na arte ao lado), Rio de Janeiro e Tóquio são as próximas sedes olímpicas, em 2016 e 2020, respectivamente, mas se distinguem na abordagem dos projetos.
Se por aqui os Jogos são vistos como o ponto de partida para transformações urbanas e sociais, no país asiático a competição de 2020 é uma forma de afirmação em diversos aspectos.
Capital do futuro, Tóquio concentra um dos mais importantes polos tecnológicos do planeta, além de contar com infraestrutura de ponta em áreas como transporte e telecomunicações. Os sete anos que restam até a Olimpíada vão servir para aperfeiçoar tudo o que já existe na cidade.
Isso passa pela própria autoestima dos japoneses, que ainda estão se reerguendo do terremoto de 2011, que causou um acidente nuclear em Fukushima e matou mais de 18 mil pessoas.
“Os Jogos serão uma oportunidade de ouro para o Japão mostrar ao mundo como está se recuperando”, afirma Shinzo Abe, primeiro ministro do país, durante pronunciamento feito em Buenos Aires, onde a capital japonesa foi escolhida como sede para 2020.
O apoio local para a realização dos Jogos é maciço. Hoje na casa dos 70%, a aprovação cresceu mais de 14% desde o desastre de dois anos atrás, prova de como os japoneses acreditam na solidez do projeto olímpico muito além da esfera esportiva.
No Rio, o legado da Olimpíada é questionável. A experiência do Pan-Americano de 2007 mostra como as competições esportivas deixam poucas marcas positivas no Brasil. Das oito principais instalações construídas para o Pan, todas tiveram seus valores superfaturados.
Além disso, após a realização do evento, algumas caíram no esquecimento, como o Parque de Deodoro, que será reformado para 2016. O Velódromo Municipal, obra construída para o Pan, não atende aos padrões olímpicos e será remodelado para 2016. As obras vão começar ainda em 2013 e devem durar cerca de dois anos, ao custo de R$ 140 milhões.
Em sua essência, o projeto de 2016 busca permitir que os cariocas sejam favorecidos pela modernização urbana, com um crescimento sustentável. “Os desafios assumidos têm como recompensa a transformação total da cidade: da infraestrutura à nossa autoestima”, destaca Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Organizador do Rio, em comunicado divulgado pelo Comitê.
Obras de estrutura, como a ampliação do metrô e a Transcarioca (linha de ônibus expresso), estão atrasadas e devem ficar prontas apenas às vésperas dos Jogos.
Parte esportiva ficou de lado
A superioridade do plano olímpico nipônico também passa pela própria concepção do esporte. Além de todo o investimento em estrutura, o Japão também se preocupa com a formação de atletas. A partir de 2014, o país vai investir cerca de R$ 30 milhões anuais em projetos para políticas esportivas.
A ideia é qualificar ainda mais a estrutura para competidores na faixa dos 16 anos, pensando em resultados efetivos para 2020. O objetivo é alcançar entre 25 e 30 ouros. Vale lembrar que tradicionalmente o Japão coleciona resultados satisfatórios em Jogos Olímpicos.
No Brasil, a formação de atletas é basicamente feita pelos clubes, que precisam bancar a totalidade dos gastos na base. O projeto Bolsa Atleta, criado em 2005, oferece patrocínio individual a atletas, mas sempre apresentou falhas.
O plano já esteve na mira do Tribunal de Contas da União (TCU), que apurou a má distribuição do dinheiro. Ficou constatado que o Bolsa Atleta não trabalhava em parceria com escolas, onde seria mais fácil identificar potenciais medalhistas. Além disso, o projeto chegou a patrocinar atletas de esportes não olímpicos, o que foi revisto nos últimos anos.
Marcos Goto, técnico que participou integralmente da formação do ginasta Arthur Zanetti, campeão olímpico em 2012, dispara contra o apoio do governo às categorias de base.
“A geração de 2016 já está praticamente formada, são atletas adultos. Demoramos para fazer um investimento maciço nas categorias de base. Investindo agora, vamos formar apenas para 2020”, reclama.
“O investimento é, de fato, desequilibrado. Priorizam as estruturas, mas não olham com a mesma atenção para a formação do atleta”, completa Goto, lembrando dos R$ 23 bilhões investidos em estrutura olímpica para 2016.
Para os Jogos do Rio, o plano do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é chegar entre os dez principais medalhistas dos Jogos.