Imagina que você tenha um amigo muito querido, muito mesmo, que esteja fazendo aniversário, e você, claro, vai à festa para prestigiá-lo. Mas, quando você chega, percebe que a maioria dos convidados não gosta de você por alguma característica sua, não importa qual. Seja você homem, mulher, rico, pobre, branco, negro, hétero ou homossexual, você é minoria naquele ambiente e se sente hostilizado. Mas você ama aquela pessoa e quer estar ali. Não bastando você se sentir ofendido e agredido, as pessoas começam a gritar cânticos falando que, se certo candidato à Presidência do país for eleito – e ele tem a maioria das intenções de voto –, você será morto.
Você vai querer ir embora e não voltar a um lugar em que não é aceito pelo simples fato de ser quem você é. Mas você sente que não é justo, porque ama demais aquela pessoa, conhece e convive com ela desde criança e quer muito fazer parte daquela festa tão importante. Então você imagina que a pessoa tão querida vai pedir para os outros convidados te respeitarem e falar que você é tão essencial quanto eles e que faz questão da sua presença. Mas não. Depois da festa, após cobranças e pressões, a pessoa lamenta o ocorrido e repudia qualquer gesto de preconceito. E só. Como não tem certeza de que não será xingado se voltar em um evento desse, você se afasta.
É isso que acontece com torcedores de times de futebol que se sentem excluídos dos estádios. São, em sua maioria, mulheres e LGBTQ, que amam um time, mas que quando chegam às arquibancadas, escutam gritos ofensivos e temem por suas próprias vidas. Foi o que aconteceu no clássico do último domingo entre Cruzeiro e Atlético, quando parte da torcida do Galo entoou músicas para os rivais dizendo que o candidato conhecido por atacar minorias ia matar homossexuais. Imagina como se sentiram os homossexuais torcedores do Atlético que estavam no Mineirão e mesmo os que não foram ao campo, muitas vezes por medo de atitudes como essa.
E é ainda muito triste quando aquela pessoa que você tanto ama – o clube do coração – não toma uma iniciativa de verdade para mostrar que você é importante, que ela faz questão da sua presença. Já passou da hora de os clubes de futebol tomarem medidas mais propositivas para impedirem músicas homofóbicas nos estádios. Se o time é de todos, se o time é do povo, que o povo todo se sinta parte e incluído nas ações dos clubes. O assunto é tão fundamental que a Fifa já começou a multar as confederações por gritos homofóbicos da torcidas. O Brasil já foi multado cinco vezes entre 2015 e 2017, durante as Eliminatórias para a Copa.
Para aqueles que dizem que o mundo ficou chato e tudo isso é “mi-mimi”, tente se colocar no lugar do outro só um instante. Tente imaginar como é chegar a um ambiente em que você quer muito estar, mas se sentir hostilizado, ofendido, ameaçado e agredido até fisicamente. Vamos parar de querer bater e matar nossos adversários e nossos diferentes pelo simples fato de serem diferentes de nós. E torçam pelo seu time sem usar de preconceito e incitar a violência. Cantem o amor ao seu clube do coração, seja ele qual for.