Os candidatos que chegaram ao segundo turno não me representavam. Tomei partido à luz de minhas convicções e passei o domingo da eleição de modo terrível, trocando insultos com os que apoiaram o vencedor. Agora, tanto faz: todos teremos de esperar o novo governo começar.
Por enquanto, as “bolas fora” se acumulam, e o “bate-cabeça” na linha de frente da transição deixa qualquer um preocupado, esperando que se ponha ordem na casa. Erros banais se tornam manchetes, como a viagem conjunta do titular e seu vice em um mesmo avião. Será que dois militares desconhecem medida de segurança banal, no sentido de preservação da linha sucessória? O anúncio de que a prova de português do próximo Enem será conhecida e revisada pelo presidente da República me leva a perguntar: por que não as demais provas? Vai ver que nelas também pode ser inserida alguma informação desagradável aos ouvidos do capitão ou que vá de encontro a seus conhecimentos acadêmicos.
Estranhei, também, que alguém com tanto tempo dedicado à vida parlamentar – quase 30 anos – não tenha tentado desarmar a bomba que lhe prepararam no Congresso, ao se votar o aumento de remuneração dos integrantes do STF. Essa votação é do tipo “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Sancionado o pedido dos mais poderosos magistrados da União, haverá reflexos para todos os lados e nos Estados. Consequentemente, os rombos orçamentários aumentarão. Ou, em sentido contrário, veta-se o aumento e descontentam-se membros do Ministério Público e das Casas legislativas, esse conjunto do que se chama de “alta esfera dos poderes públicos”. Confusão à vista.
E há repercussões no próprio Executivo. Não se deve menosprezar o poder de fogo dos servidores efetivos de carreira que clamam por reajustes. O “corpo mole” e a indisposição contra quem tem a caneta na mão, mas depende da cooperação de todos para poder usá-la, podem infernizar a vida de quem está no topo da cadeia de comando. Sem falar no inusitado que significa um capitão reformado ter-se transformado no futuro comandante supremo das Forças Armadas. O senso de hierarquia entre esses estamentos é muito forte. A propósito: oficiais generais de quatro estrelas já pedem equiparação de vencimentos com o STF.
Espero que Bolsonaro saiba se comportar melhor que Dilma Rousseff, que punha todo mundo para fora da sala aos gritos e com impropérios. Espero mesmo.
Como estamos todos num barco em mar de procelas – o pior de vários mundos –, convém não ficar ameaçando aos trancos e barrancos. Obedecer é muito difícil, mas mandar costuma ser mais ainda. Interesses se cruzam e se chocam: transferir para Jerusalém a embaixada brasileira em Israel pode pôr a perder o melhor mercado para exportação de aves que o Brasil possui atualmente; considerar que o Mercosul não é prioridade nos levará a perder o nosso terceiro maior mercado exportador, a Argentina. Industriais estão arrepiados!
E para tornar tudo mais difícil, o déficit fiscal já acumulado vai exigir muita sensibilidade na realização dos cortes previsíveis... Haja sabedoria!