Não fosse a manifestação da sociedade organizada a reclamar do excesso de burocracia e de carga tributária, o mundo político brasileiro e os donos do poder estariam inventando mais absurdos para espoliar o cidadão. O assalto durou, impune, tanto tempo, que parecia não ter prazo para acabar.
Infelizmente, a população, ignara do sistema que a priva do indispensável, passou a desconfiar mais recentemente, e o resultado se apresentou nas urnas, surpreendendo quem pensava continuar impunemente na prática.
Os candidatos de cores e crenças variadas levantaram juras (como se não fossem cúmplices do desastre ao qual se chegou) e promessas de simplificar, de desburocratizar, de diminuir impostos, de facilitar a vida. Reconheceram sem pudor que os excessos inibem a competitividade, o crescimento econômico, a geração de oportunidades, ampliando o desemprego e a miserabilidade.
Tarde demais. Nem mesmo aqueles gravemente culpados da desgraça, que se fingiram inocentes, tiveram êxito. A caravana de seus governos deixou no rastro destroços indeléveis e a sina da corrupção no mastro mais alto.
Analisando o mapa eleitoral do segundo turno em Minas, nota-se que, quanto maior a distância da capital, melhor se fez o desempenho do candidato Zema e pior o de Anastasia. Zema somou 72% contra 28% e representou a resposta marcante ao sentimento de indignação e de abandono que se abrigou na alma da maioria.
A resposta nos vales da pobreza, nas fronteiras da Zona da Mata e do Triângulo deu uma dimensão dos equívocos tucanos que a derrota de Aécio e Pimenta da Veiga mostrou em 2014. Anastasia captou apenas um voto, no máximo dois, em cada dez disponíveis em regiões de fronteira.
O eleitor não se convenceu com as falas redondas pintando um futuro sem respaldo no passado, muito menos com o excesso de críticas no limite da demonização a Zema, sem qualquer autocrítica. Isso afundou ainda mais o barco do PSDB em plena travessia. “Saber tudo” e dar resultados negativos anulou a virtude do “saber”, exaltou o “não saber” de seu adversário.
Quem vive na divisa da realidade de São Paulo, Goiás, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro desaprovou o modus operandi de Minas das últimas décadas, que consolidaram um Estado complicado, caro, pouco competitivo, incapaz de transformar em oportunidades suas imensas riquezas naturais.
Um Estado que poderia se sustentar com combustíveis naturais sem importar um litro de gasolina, mas se transformou no maior consumidor dos combustíveis fósseis e poluidores. O Estado que, apesar da fartura de terras para produção de madeira reflorestada, prefere manter terras degradadas incultas; que da abundância de sua energia hidrelétrica tira a tarifa mais alta do país. Comprovou, ainda, em letras garrafais, a incapacidade de aproveitar minimamente os minérios estratégicos, como o nióbio, o lítio, o urânio e muitos outros, que imporiam Minas ao mundo.
Quando apareceu uma brecha para tirar de cena os candidatos da velha política, o eleitor não titubeou. Castigou o desleixo, os milhares de empreendimentos que foram afugentados, puniu as inúteis obras faraônicas quando a população ficou sem o mínimo para uma vida decente.
No Brasil são necessárias 2.600 horas de burocracia, em Minas mais do que isso, para aquilo que, num país civilizado, se resolve em 450 horas por ano. É como ser seis vezes mais pesado e competir com os 350 kg de burocracia com quem tem apenas 70. Burocracia que tem sua razão de ser na prática da discricionariedade, do empreguismo, do partidarismo, destruindo os setores produtivos, que poderiam gerar renda e arrecadação pública para manter o Brasil de pé.
A forma discricionária de conduzir o poder se vale de excessos de propaganda imerecida, que subsidiariamente atende mensalões e propinas. O pior é que alguns governantes acreditaram que a propaganda enganosa pudesse manter quietos o descontentamento e a miséria que deixavam no rastro.
No cipoal burocrático ditado por quem não trabalha, não costuma ter prazo para responder, analisar e aprovar, não importa o prejuízo provocado ou o aniquilamento de boas iniciativas privadas. O Estado existe hoje para atrapalhar, cobrar exageradamente e nada devolver de razoável.
Os novos governantes desembarcarão em janeiro numa ilha arrasada, com poucas vacas e muitos carrapatos. Fica nisso o desafio de transformar, apagar inutilidades e estabelecer utilidade para fomentar o desenvolvimento e geração de renda.
O Brasil já perdeu décadas a fio e oportunidades excepcionalmente favoráveis, gastou bilhões em obras faraônicas, tão inúteis ao povo quanto úteis ao esquema da corrupção.
É preciso arquivar o Estado tirano e dar ao cidadão a presunção da boa-fé, ao contrário do que acontece despudoradamente na máquina pública hostil, perdulária, lenta, caríssima e monstruosamente injusta.
Minas, em especial, precisa demolir as barreiras que represam o progresso, deixam na fome milhões de pessoas, impedem uma arrecadação maior ao Estado e serviços sociais minimamente dignos para a população. A melhor política social é o desenvolvimento.