Tenho recebido algumas solicitações para dar opinião sobre política de modo geral. Nesta coluna, sempre dei preferência a amenidades e temas leves – tão em falta nos dias de hoje –, procurando evitar a polêmica e adentrar em campo minado de interesses e paixões.
O problema é que não aguento escutar mentiras e ficar balançando a cabeça quando as coisas passam do limite. Ficar quieta nesta coluna é uma opção consciente, mas, na rua, sou capaz de me tornar “barraqueira”, com direito a discussões acaloradas. Ter que ouvir elucubrações de oportunistas incorrigíveis, falando pelos cotovelos, me incomoda.
Gente que esteve contra tudo e todos, que torceu despudoradamente pelo “quanto pior, melhor”, e, depois, na maior cara de peroba, afirmou que salvou o país. Como se este tivesse renascido, moralizado e modernizado a partir de 2003.
Gente que herdou a estabilidade da moeda; mudou o nome de programas sociais já existentes, aumentando a abrangência destes devido aos alicerces fundados anteriormente; que gastou horrores em propagandas, dizendo exaustivamente que “nunca antes na história deste país” e, ainda por cima, vangloriando-se de ter sido o “pai da criança”. Tem hora que não dá mesmo para ficar calada.
Infelizmente, a memória do brasileiro é curta, e, de vez em quando, é necessário lembrar nossa caminhada. Lembrar que o Partido dos Trabalhadores nunca votou a favor de medidas de suma importância. Ele as condenou com estardalhaço e “bravatas” (como definiu Lula) pelo simples fato de, “quanto mais problemas”, mais fácil seria convencer eleitores incautos. O PT não explicava os motivos, apenas era contrário a tudo. Torcia pelo fracasso, travando a possibilidade de avanços, inclusive agravando as condições de vida dos pobres. Quanto mais sofressem, mais torceriam por mudanças.
Analisando com frieza, o ex-presidente Lula foi contra tudo que, depois, chegando ao governo, adotou. Desde o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Proer, a privatização da telefonia, até o Bolsa Família.
Foi tão contra o “bolsa família” de FHC que, em 2000, gravou, sem pudor, para quem quisesse ver e ouvir, sua versão do programa: “Lamentavelmente, no Brasil, o voto não é ideológico. As pessoas não votam partidariamente, e, lamentavelmente, tem uma parte da sociedade com alto grau de empobrecimento. Ela é conduzida a pensar com o estômago, e não com a cabeça. É por isso que se distribui tanta cesta básica, é por isso que se distribui tanto tíquete de leite. Na verdade, isso é uma peça de troca em época de eleição e, assim, despolitiza o processo eleitoral. Você trata o povo mais pobre da mesma forma que Cabral tratou os índios quando chegou ao Brasil, tentando distribuir bijuterias, espelhos, para ganhar os índios. Eles distribuem alimento. Você tem como lógica manter a política de dominação, que é secular no Brasil”. Isso é o que ele disse e gravou em 2000. Isso é exatamente o que fez durante o seu mandato.
Pois é, pelo visto, o ex-presidente tem uma personalidade mutante, ao sabor do momento. E, com essa incoerência, não dá para acreditar em tudo o que diz. Não pretendo tirar dele seus méritos, que também foram muitos. Apenas gostaria que ele fosse menos prepotente, que não negasse tão descaradamente os seus erros, que não queimasse sua biografia como queimou, que não articulasse campanhas absurdas se colocando como candidato, quando sabia perfeitamente dessa impossibilidade. Que não jogasse mais para a plateia e que, sinceramente, colocasse a mão na consciência e parasse de negar o óbvio. Chega de teatro! Basta de mentiras, de desonestidade, de confundir o público com o privado. Basta de gestões como a da Petrobras, cabidão da companheirada, infindável e indecorosa “fonte de renda” para um bando de sem-vergonha.
O Brasil não apenas não merece, como não suporta mais tantos erros. O Brasil perdeu fôlego e sangra.
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